Quem foi Zaratustra e quais suas ideias?

Zaratustra foi um profeta e figura central do zoroastrismo, uma antiga religião persa, que pregava a luta entre o bem e o mal, sendo um dos primeiros a promover uma visão dualista do universo.

Zaratustra: importante filósofo e profeta da Pérsia Antiga.
Zaratustra: importante filósofo e profeta da Pérsia Antiga.



Quem foi Zaratustra?


Zaratustra, também conhecido como Zoroastro em grego, foi um filósofo, líder espiritual e profeta da antiga Pérsia (atual Irã). Ele é conhecido como sendo o fundador do Zoroastrismo, uma das mais antigas religiões monoteístas do mundo. Seus ensinamentos e filosofia influenciaram significativamente o pensamento religioso e filosófico posterior, incluindo aspectos do judaísmo, cristianismo e islamismo. A importância de Zaratustra reside não apenas no seu papel como figura religiosa, mas também na sua contribuição para questões éticas e metafísicas que continuam relevantes.


Biografia (vida pessoal) resumida de Zaratustra


As datas exatas da vida de Zaratustra são incertas, mas os estudiosos geralmente o situam entre 1500 a.C. e 1000 a.C. Ele nasceu na região que corresponde ao nordeste do Irã ou ao sudoeste do Afeganistão. A principal fonte sobre sua história de vida vem dos textos zoroastristas, especialmente o "Avesta", os escritos sagrados do zoroastrismo, onde ele é descrito como uma figura profundamente comprometida com a busca pela verdade e pela justiça.


Zaratustra nasceu em uma família de sacerdotes, o que provavelmente influenciou seu treinamento espiritual desde cedo. Por volta dos 30 anos, segundo a tradição, Zaratustra teve uma visão divina na qual encontrou Ahura Mazda, o deus supremo do zoroastrismo. Essa visão o convenceu de que Ahura Mazda era o único deus verdadeiro, marcando o início de sua missão de pregar uma nova fé baseada na adoração de uma única divindade.


Zaratustra enfrentou forte oposição das autoridades religiosas politeístas de sua época, que resistiam aos seus ensinamentos. Diz-se que ele vagou por muitos anos antes de finalmente ganhar o apoio de um rei regional chamado Vishtaspa, o que ajudou a estabelecer sua comunidade religiosa. Pouco se sabe sobre seus últimos anos, mas acredita-se que ele continuou ensinando e pregando até sua morte, que, segundo a tradição, ocorreu quando ele foi morto aos 77 anos.

 

Pintura representando Zaratustra

Zaratustra: filosofia baseada na ideia da luta entre o bem e o mal (a ordem e o caos).



Principais doutrinas e ideias filosóficas de Zaratustra:



Monoteísmo e Ahura Mazda: central nos ensinamentos de Zaratustra está a crença em Ahura Mazda como o deus supremo, que representa bondade, sabedoria e verdade. Zaratustra rejeitou a adoração de múltiplos deuses, comum na região, e promoveu Ahura Mazda como a única divindade, todo-poderosa, que criou o universo e mantém sua ordem.


Dualismo: a batalha entre o Bem e o Mal: Zaratustra introduziu o conceito de dualismo cósmico, em que o mundo é visto como um campo de batalha entre duas forças opostas: Spenta Mainyu, o Espírito Santo, que representa a verdade e a bondade, e Angra Mainyu (também conhecido como Ahriman), o Espírito Destrutivo, que simboliza a mentira e o mal. Os seres humanos desempenham um papel crucial nessa batalha, pois suas escolhas e ações apoiam as forças do bem ou contribuem para a propagação do mal.


Livre-arbítrio e Responsabilidade Moral: uma das ideias mais profundas de Zaratustra é a ênfase no livre-arbítrio humano. Ele ensinou que os indivíduos têm o poder de escolher entre o bem e o mal, e essas escolhas determinam não apenas seu destino nesta vida, mas também sua sorte na vida após a morte. Viver de forma ética, marcada por bons pensamentos (humata), boas palavras (hukhta) e boas ações (huvarshta), é fundamental para alinhar-se a Ahura Mazda e às forças do bem.


O Conceito de Asha (Ordem, Verdade e Justiça): Asha é um conceito central na filosofia de Zaratustra, referindo-se ao princípio de ordem, verdade e justiça que governa tanto o cosmos quanto a sociedade humana. Viver de acordo com Asha significa aderir à verdade, praticar a justiça e manter a harmonia com a ordem natural. Essa ideia está intimamente relacionada às responsabilidades morais e éticas que os indivíduos têm no zoroastrismo.


A Vida após a morte e o julgamento final: os ensinamentos de Zaratustra também incluem crenças sobre a vida após a morte e o julgamento. Após a morte, a alma passa por um julgamento com base nas ações da pessoa durante sua vida. Aqueles que viveram de acordo com Asha são recompensados no paraíso, enquanto os que seguiram o caminho da mentira e do mal são condenados a um lugar de sofrimento. Zaratustra acreditava, em última instância, em uma batalha cósmica final em que as forças do bem triunfariam, levando à restauração do mundo em sua forma perfeita.

 

 

Zaratustra e o pensamento filosófico de Nietzsche

 

Na obra filosófica de Friedrich Nietzsche "Assim Falou Zaratustra", a figura de Zaratustra é reimaginada como um professor simbólico que transmite as principais ideias de Nietzsche, como a "morte de Deus", a vontade de poder e o Übermensch (Super-Homem). Nietzsche usa Zaratustra para desafiar os valores religiosos e morais tradicionais, argumentando que a humanidade deve transcender esses sistemas ultrapassados para criar novos valores. A jornada de Zaratustra reflete a visão de Nietzsche sobre a evolução humana em direção à superação de si mesma, livre das restrições da moralidade convencional.


A filosofia de Nietzsche, apresentada através de Zaratustra, gira em torno da ideia de que a vida é governada pela vontade de poder (uma força fundamental que impulsiona os indivíduos a se afirmarem e moldarem sua realidade). Ele critica a ideia cristã de humildade e autossacrifício, sugerindo que esses valores impedem o potencial humano. Em vez disso, Nietzsche propõe o conceito do Übermensch, uma figura ideal que encarna o autodomínio, a criatividade e a capacidade de forjar novos valores em um mundo sem autoridade divina. A morte de Deus simboliza o fim das verdades absolutas e a necessidade de os humanos assumirem a responsabilidade por sua existência, abraçando os desafios e incertezas da vida. Através de Zaratustra, Nietzsche oferece uma reinterpretação radical da existência e da moralidade humanas.

 

 


 

Por Jefferson Evandro M. Ramos (graduado em História pela USP)

Publicado em 12/10/2024