Paganismo
Paganismo é um termo usado para definir crenças que veneram múltiplas divindades e a natureza.
Definição e origens do paganismo
Paganismo é um termo genérico usado para englobar uma variedade de crenças espirituais e religiosas que são frequentemente politeístas e baseadas na natureza. A palavra "paganismo" vem originalmente do latim "paganus," que significa "morador do campo" ou "rústico," refletindo as raízes rurais de muitas práticas pagãs.
Historicamente, o paganismo antecede as principais religiões monoteístas e era a forma predominante de religião no mundo antigo, com exemplos notáveis como as tradições grega, romana, nórdica e celta. Essas práticas antigas envolviam geralmente a adoração de múltiplos deuses e deusas, cada um associado a diferentes aspectos da vida e da natureza.
O termo "paganismo" tem historicamente sido usado como um rótulo abrangente para religiões e práticas espirituais que não se alinham com o Cristianismo predominante, particularmente durante e após a disseminação do cristianismo na Europa. Esta classificação ampla e muitas vezes pejorativa agrupou uma variedade de religiões indígenas e antigas sob um único guarda-chuva, sem considerar suas crenças, práticas e contextos culturais únicos. Ao definir o paganismo em oposição ao cristianismo, o termo intrinsecamente enquadrou essas religiões como 'outras', frequentemente implicando que eram primitivas, supersticiosas ou moralmente inferiores. Esse uso reflete uma perspectiva eurocêntrica e cristã que diminui a complexidade e a validade das tradições espirituais não cristãs.
Vale a pena deixar claro também que, muitos dos praticantes atuais de crenças e cultos considerados pagãos (chamados de neopagãos), não se consideram integrantes do paganismo. Isso ocorre, principalmente, em função do caráter pejorativo que a palavra "paganismo" ganhou em países de maioria cristã, e por este termo desconsiderador a diversidade de crenças existentes.
Práticas e rituais pagãos
Os rituais e práticas pagãos são diversos, refletindo a ampla gama de tradições religiosas pagãs. Elementos comuns incluem a celebração de festivais sazonais, conhecidos como Sabbats, que marcam pontos-chave no calendário agrícola. Por exemplo, Samhain (31 de outubro) marca o fim da colheita e o início do inverno, enquanto Beltane (1 de maio) celebra a fertilidade da terra. Os rituais envolvem frequentemente o uso de círculos sagrados, cânticos, danças, oferendas e a invocação de divindades. Práticas pessoais podem incluir meditação, adivinhação (como a leitura de cartas de tarô) e o uso de amuletos e talismãs.
Santuário pagão para o deus Freyr da religião neopagã Ásatrú. |
Relação do paganismo com a natureza
A natureza é central para a espiritualidade pagã. Os pagãos veem a Terra como sagrada e se esforçam para viver em harmonia com o mundo natural. Esta profunda conexão com a natureza influencia seu comportamento ético, levando a práticas como a conservação ambiental, a agricultura orgânica e o ativismo pelos direitos dos animais. Os ciclos da lua, do sol e das estações do ano desempenham um papel significativo nos rituais e celebrações pagãs, simbolizando a interconexão de toda a vida. A reverência pela natureza se estende a um respeito por todos os seres vivos, incentivando um estilo de vida que minimize os danos ao meio ambiente.
Exemplos de crenças e religiões consideradas pagãs e suas características:
1. Wicca
• Reverência pela natureza, politeísmo (tipicamente adoração de um deus e uma deusa) e a prática da magia.
• Rituais baseados em ciclos lunares e solares, celebração dos Sabbats (festivais sazonais) e Esbats (rituais lunares).
2. Druidismo
• Conexão com a natureza, reverência pelos ancestrais e crença no Awen (uma fonte de inspiração divina).
• Celebrações da Roda do Ano Celta, rituais em bosques sagrados e práticas de adivinhação e poesia.
3. Ásatrú (neopaganismo nórdico)
• Adoração dos deuses nórdicos (como Odin, Thor e Freyr), crença em uma vida após a morte em lugares como Valhalla ou Hel.
• Blóts (rituais), sumbel (brindes rituais) e observância de feriados nórdicos.
4. Helenismo
• Adoração dos deuses gregos antigos (como Zeus, Hera e Atena), ênfase na arete (virtude ou excelência).
• Reencenação de rituais religiosos gregos antigos, oferendas a divindades e celebração de festivais tradicionais como a Panathenaia.
5. Kemetismo (paganismo egípcio)
• Adoração das divindades egípcias antigas (como Rá, Ísis e Osíris), crença em ma'at (verdade, equilíbrio, ordem).
• Rituais baseados nas tradições egípcias antigas, observância de festivais antigos e oferendas a deuses e ancestrais.
6. Zuísmo
• Veneração de deuses sumérios: Zuísmo centra-se na adoração dos deuses e deusas do antigo panteão sumério, como Anu, Enlil e Inanna.
• Rituais e festivais baseados em tradições mesopotâmicas: A prática do Zuísmo inclui celebrações e rituais que seguem o calendário festivo e as tradições religiosas da antiga Mesopotâmia.
7. Xamanismo
• Animismo (crença de que todas as coisas têm espíritos), conexão com a natureza e o papel do xamã como mediador entre os mundos espiritual e físico.
• Rituais envolvendo tambores, estados de transe, buscas de visão e cerimônias de cura.
8. Reconstrucionismo Celta
• Reviver crenças celtas pré-cristãs, politeísmo e reverência pela natureza e pelos ancestrais.
• Reconstrução de rituais celtas antigos, celebração dos festivais sazonais celtas e uso do folclore tradicional.
O líder religioso islandês Sveinbjorn Beinteinsson, fundador da religião Asatrú, em um blót. |
Principais símbolos usados no paganismo e seus significados
O paganismo é rico em símbolos que carregam significados espirituais profundos. O pentáculo, uma estrela de cinco pontas dentro de um círculo, representa os elementos (terra, ar, fogo, água e espírito) e é frequentemente usado para proteção e equilíbrio.
O símbolo da lua tripla, representando a lua crescente, cheia e minguante, significa as três fases da deusa (donzela, mãe e anciã) e os ciclos da vida.
Outros símbolos comuns incluem o ankh, que representa a vida e a imortalidade no paganismo egípcio, e o martelo de Thor, Mjollnir, um símbolo de proteção e poder no paganismo nórdico.
Mjollnir: um dos símbolos do paganismo germânico e nórdico. |
O paganismo contemporâneo
Hoje, o paganismo tem experimentado um ressurgimento, muitas vezes referido como Neopaganismo, que inclui práticas modernas como a Wicca, o Druidismo e o Heathenry (Neopaganismo germânico). Os pagãos contemporâneos adaptam tradições antigas para se ajustarem aos estilos de vida modernos, mesclando rituais antigos com novas interpretações. Esse renascimento é marcado por um foco na espiritualidade pessoal, na conscientização ecológica e na construção de comunidades. A internet tem desempenhado um papel significativo nesse renascimento, fornecendo plataformas para educação, networking e organização de eventos como o Dia do Orgulho Pagão. O paganismo moderno é diverso, com praticantes que se baseiam em várias fontes históricas enquanto também criam novas tradições.
Desafios e preconceitos
Apesar de sua crescente popularidade, o paganismo ainda enfrenta desafios e preconceitos. Estereótipos comuns retratam os pagãos como excêntricos, supersticiosos ou até mesmo malignos, em grande parte devido a mal-entendidos históricos e à demonização das práticas pagãs por religiões monoteístas. Os pagãos frequentemente enfrentam discriminação em suas vidas pessoais e profissionais, decorrente desses equívocos. No entanto, muitos pagãos estão trabalhando para combater esses estereótipos através da educação, divulgação e praticando abertamente suas crenças. Esse esforço está ajudando a promover maior aceitação e compreensão do paganismo na sociedade contemporânea.
Você sabia?
Grande parte das religiões neopagãs foram formadas a partir do resgate e valorização de crenças, rituais e divindades de religiões de civilizações da Antiguidade como, por exemplo, grega, romana, mesopotâmica, celta e egípcia.
Publicado em 29/05/2024
Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP).
Temas relacionados
Bibliografia e vídeos indicados:
Fonte de referência do artigo:
AGNOLI, Adone. História das religiões: perspectiva histórico-comparativa. São Paulo: Paulinas, 2013.