Correntes do Pensamento Geográfico
As correntes do pensamento geográfico representam diferentes abordagens teóricas e metodológicas que explicam a relação entre sociedade e espaço.

O que são
As correntes do pensamento geográfico representam diferentes abordagens teóricas e metodológicas que moldaram o desenvolvimento da Geografia ao longo do tempo. Essas correntes refletem não apenas as transformações científicas, mas também as mudanças sociais, políticas e econômicas que influenciaram a forma como os geógrafos interpretam o espaço geográfico. Ao longo da história, diversas escolas de pensamento surgiram, cada uma com seus pressupostos epistemológicos, suas metodologias e seus objetos de estudo específicos. A seguir, serão abordadas as principais correntes do pensamento geográfico e suas contribuições para a disciplina.
PRINCIPAIS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E SUAS CARACTERÍSTICAS:
1. Geografia Tradicional
A Geografia Tradicional predominou até o final do século XIX e início do século XX. Seu foco era essencialmente descritivo, enfatizando a catalogação de fenômenos naturais e humanos sem uma preocupação analítica aprofundada. Os geógrafos dessa corrente concentravam-se na caracterização de paisagens, na classificação de formas de relevo, no estudo dos climas e na identificação de recursos naturais. Essa abordagem forneceu uma base para os estudos posteriores, mas foi criticada por sua falta de rigor teórico e metodológico.
2. Determinismo Geográfico
O Determinismo Geográfico, desenvolvido no final do século XIX, tinha como principal expoente Friedrich Ratzel. Essa corrente defendia a ideia de que as condições naturais determinavam o comportamento e o desenvolvimento das sociedades humanas. Para os deterministas, fatores como clima, relevo e disponibilidade de recursos eram os principais responsáveis pelo sucesso ou fracasso das civilizações. Essa abordagem foi amplamente criticada por seu caráter reducionista, uma vez que desconsiderava a influência das dinâmicas sociais e culturais na organização do espaço.
3. Possibilismo Geográfico
Como reação ao determinismo, surge no início do século XX o Possibilismo Geográfico, tendo como principal representante Paul Vidal de La Blache. Essa corrente argumentava que o meio natural oferece possibilidades diversas para a ocupação humana, mas que as sociedades possuem autonomia para escolher como utilizar os recursos disponíveis. O possibilismo enfatizou a importância da cultura e das decisões humanas na construção do espaço geográfico, abrindo caminho para análises mais complexas da relação entre sociedade e natureza.
4. Geografia Regional
A Geografia Regional consolidou-se como um dos principais enfoques da disciplina no início do século XX. Seu objetivo era a análise detalhada das regiões, considerando suas características naturais e humanas. Essa abordagem utilizava o método indutivo, partindo da observação empírica para a construção do conhecimento. Apesar de sua relevância na compreensão das especificidades locais, a Geografia Regional foi criticada por sua abordagem descritiva e fragmentada, que dificultava a formulação de teorias gerais sobre o espaço geográfico.
5. Geografia Quantitativa
Na segunda metade do século XX, surgiu a Geografia Quantitativa, também chamada de Nova Geografia. Essa corrente, influenciada pelo positivismo lógico e pela Revolução Quantitativa nas ciências sociais, buscava tornar a Geografia uma ciência mais objetiva e rigorosa. Para isso, os geógrafos quantitativos utilizaram métodos estatísticos, modelos matemáticos e ferramentas cartográficas para analisar padrões espaciais. Embora tenha contribuído para a modernização da disciplina, a Geografia Quantitativa foi criticada por sua excessiva abstração e por negligenciar aspectos qualitativos e subjetivos do espaço geográfico.
|
A Geografia Quantitativa é uma abordagem da geografia que utiliza métodos matemáticos, estatísticos e modelagens espaciais para analisar padrões, distribuir fenômenos e compreender relações espaciais de forma objetiva e mensurável. |
6. Geografia Crítica
Nos anos 1970, emergiu a Geografia Crítica, influenciada pelo materialismo histórico e pelas teorias marxistas. Essa abordagem questionava as desigualdades socioespaciais e buscava compreender os processos que produzem e reproduzem as relações de poder no território. Os geógrafos críticos analisavam temas como a segregação urbana, a exploração dos trabalhadores e a distribuição desigual dos recursos. A Geografia Crítica teve um impacto significativo na disciplina, promovendo uma visão mais engajada e politicamente comprometida com a transformação da realidade social.
7. Geografia Humanista
A Geografia Humanista surgiu como uma reação à excessiva abstração da Geografia Quantitativa. Influenciada pela fenomenologia e pelo existencialismo, essa corrente enfatiza a subjetividade e a experiência humana no espaço. Os geógrafos humanistas investigam como os indivíduos percebem, vivenciam e atribuem significados aos lugares. Essa abordagem trouxe contribuições importantes para a compreensão da identidade territorial, do sentimento de pertencimento e das relações afetivas com o espaço geográfico.
8. Geografia Cultural
A Geografia Cultural, desenvolvida a partir dos anos 1980, busca compreender as interações entre cultura e espaço. Essa corrente analisa como os valores, as crenças, as práticas sociais e as representações simbólicas moldam a organização do território. Questões como a globalização cultural, a territorialidade das populações tradicionais e as dinâmicas identitárias são centrais para essa abordagem. A Geografia Cultural expandiu os horizontes da disciplina, incorporando perspectivas interdisciplinares e aprofundando o estudo das relações entre espaço e cultura.
Por Marcia Rodrigues - Professora de Geografia - Graduada pela Universidade de Guarulhos (2005).
Publicado em 05/03/2025
Temas relacionados
Bibliografia e vídeos indicados:
COSTA, Fábio Rodrigues da. Geografia: corrente do pensamento e conceitos. Curitiba: CRV, 2020.
Vídeo indicado no YouTube: