Ninjas do Japão Feudal

Os ninjas eram guerreiros especializados em espionagem, sabotagem e assassinato, que atuavam no Japão feudal, geralmente contratados por senhores feudais para missões clandestinas.

Representação moderna de um ninja
Representação moderna de um ninja


Quem eram e origem dos ninjas


Os ninjas, ou shinobi (como eram mais comumente conhecidos no Japão), eram agentes secretos que desempenharam um papel crucial nas lutas pelo poder do Japão Feudal. Ao contrário dos samurais, que eram guiados por um rigoroso código de honra (bushido), os ninjas eram frequentemente contratados por senhores feudais, ou daimyos, para realizar espionagem, sabotagem, assassinato e guerra de guerrilha.


Suas origens remontam ao século XII, durante o período Heian, mas se tornaram mais proeminentes durante o período Sengoku (1467-1603), uma época de quase constante conflito militar no Japão.


Os ninjas eram, em grande parte, oriundos das classes mais baixas da sociedade, incluindo camponeses, agricultores e até samurais desonrados. Diferente da imagem romantizada deles como assassinos de elite, muitos eram pessoas comuns treinadas nas artes da furtividade (habilidade de agir de forma secreta) e do disfarce para servir seus senhores ou proteger suas vilas de exércitos invasores.



Principais funções dos ninjas na sociedade:


O papel principal dos ninjas era a coleta de informações. Em uma época em que a informação era tão valiosa quanto a força militar, os daimyos (senhores feudais) confiavam nos ninjas para infiltrar territórios inimigos, coletar informações sobre movimentos de tropas, defesas e estratégias, e relatar de volta com informações valiosas.


Os ninjas também eram empregados como sabotadores, interrompendo linhas de suprimento, destruindo fortificações inimigas e espalhando desinformação para enfraquecer os adversários antes de uma batalha.


O assassinato era outra tarefa atribuída aos ninjas, mas isso não era tão comum quanto a cultura popular sugere. Os ninjas eram mais propensos a se envolver em missões que exigiam disfarce em vez de confronto direto. Eles se destacavam em criar diversões, armadilhas e usar táticas psicológicas para desestabilizar seus inimigos.


Além de suas funções marciais, os ninjas também atuavam como guarda-costas e protetores de seus patronos. Em alguns casos, serviam como agentes duplos, infiltrando-se nas fileiras inimigas para fornecer informações falsas e semear discórdia internamente.

 

Pintura representando o líder ninja Hattori Hanzo

Hattori Hanzo: importante samurai e ninja japonês do século XVI.



Como eram recrutados e treinados


Os ninjas eram frequentemente recrutados em áreas rurais, onde a arte do ninjutsu (as habilidades e técnicas dos ninjas) era transmitida através das gerações dentro de famílias ou clãs específicos. As regiões de Iga e Koga, no centro do Japão, eram particularmente renomadas por suas escolas de ninjas, onde jovens recrutas passavam por um treinamento rigoroso.


O treinamento para se tornar um ninja era abrangente e complexo. Incluía condicionamento físico, treinamento em artes marciais e o domínio de várias armas, como espadas, shuriken (estrelas de arremesso) e arcos. Furtividade e agilidade eram fundamentais, então os ninjas eram treinados para se mover silenciosamente, escalar paredes, subir em cordas e se misturar ao ambiente.


Além do treinamento físico, os ninjas aprendiam a arte do disfarce, a guerra psicológica e o uso de venenos e explosivos.


Também eram educados em geografia, meteorologia e astronomia, o que lhes permitia navegar e operar eficazmente em diversos ambientes.


Disciplina mental e a capacidade de permanecer calmo sob pressão eram cruciais, já que o sucesso de suas missões muitas vezes dependia de sua habilidade de pensar e agir rapidamente em situações imprevisíveis.

 

Foto de uma armadura ninja antiga

Armadura ninja antiga

 



Roupas, armas e equipamentos usados pelos ninjas


A imagem estereotipada de um ninja vestido inteiramente de preto, com roupas justas, armado com uma katana e uma máscara no rosto, é em grande parte uma criação da mídia moderna. Na realidade, os ninjas geralmente usavam roupas que permitiam que se misturassem ao ambiente. Durante o dia, isso poderia significar se vestir como um camponês, comerciante ou monge para evitar chamar atenção. Para operações noturnas, roupas escuras eram de fato usadas, mas normalmente eram de cor azul escuro ou marrom em vez de preto, pois essas cores proporcionavam melhor camuflagem ao luar.


Os ninjas usavam uma variedade de armas, muitas das quais eram disfarçadas como ferramentas comuns. A katana, embora icônica, não era sua arma principal. Em vez disso, os ninjas preferiam espadas mais curtas (wakizashi) para facilitar a mobilidade. Eles também usavam armas como o kunai (uma ferramenta multiuso que poderia ser usada como arma ou auxílio na escalada), o shuriken (estrelas de arremesso) e a zarabatana, que podia despachar inimigos silenciosamente com dardos envenenados. Também usavam o Kusarigama, uma arma japonesa tradicional composta por uma foice (kama) acoplada a uma corrente (kusari) com um peso na extremidade, usada pelos ninjas tanto para ataques à curta distância quanto para imobilizar ou desarmar oponentes à distância.


Outros equipamentos incluíam ganchos de escalada para subir paredes, bombas de fumaça para criar distrações e caltrops (dispositivos de metal com pontas afiadas dispostas de maneira que, ao serem jogados no chão, uma ponta sempre fique para cima) para retardar perseguidores.


Vale dizer que os ninjas eram muito engenhosos, muitas vezes usando as ferramentas que estavam à sua disposição para cumprir suas missões.

 

Foto de um shuriken, estrela de arremesso, ninja

Shuriken (estrela de arremesso): um dos armamentos mais utilizados pelos ninjas.

 



Quando e como deixaram de existir


O declínio dos ninjas começou no início do século XVII, com o estabelecimento do Xogunato Tokugawa, que pôs fim ao período Sengoku e inaugurou uma longa era de paz e estabilidade no Japão. Com a unificação do Japão sob Tokugawa Ieyasu, a necessidade de guerra clandestina e espionagem diminuiu significativamente. Os daimyos não precisavam mais dos serviços dos ninjas, e as habilidades e práticas associadas ao ninjutsu começaram a cair no esquecimento.


À medida que o Japão entrou no período Edo (1603-1868), o papel dos ninjas tornou-se menos relevante. Embora alguns continuassem a servir como espiões para seus senhores, o ninja, como uma classe distinta de guerreiros, desapareceu gradualmente. No século XVIII, os últimos remanescentes de clãs organizados de ninjas já haviam se dissolvido, e a arte do ninjutsu foi perdida ou absorvida por outras tradições marciais.


No entanto, o misticismo em torno dos ninjas perdurou no folclore e mais tarde se tornou objeto de fascínio na literatura, no teatro e, eventualmente, no cinema e na televisão, levando às representações exageradas e fantásticas que vemos hoje.

 

 

Foto de uma arma ninja com corrente e espécie de foice na ponta.

Kusarigama Ninja: armamento muito usado pelos ninjas.

 

 

Pintura do século XIX representando um ninja vestido de preto, subindo por uma corda.

Ninja representado numa pintura de Katsushika Hokusai: Manga do começo do século XIX.

 

 


 

Jefferson Evandro M. Ramos (graduado em História pela USP)


Publicado em 25/08/2024

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