Pintura Romana Antiga

A pintura romana antiga é caracterizada por uma rica diversidade de estilos e técnicas, influenciada pela arte grega e etrusca, com obras-primas como as pinturas murais de Pompeia e Herculano.

Pintura romana antiga: realismo, perspectiva e monumentalidade.
Pintura romana antiga: realismo, perspectiva e monumentalidade.

 

Introdução


A pintura romana antiga representa uma das manifestações mais importantes e duradouras do legado artístico da Roma Antiga. Esta expressão artística desenvolveu-se ao longo de séculos, sendo influenciada principalmente pela cultura grega, além de outras civilizações mediterrâneas com as quais Roma manteve contato. A pintura romana é um testemunho precioso da vida cotidiana, das crenças religiosas, da mitologia e dos valores sociais que permeavam a sociedade romana em seus diversos períodos históricos.



Principais características da pintura romana antiga:

 

Realismo: busca representar cenas e pessoas de maneira próxima ao natural, com certa idealização em aspectos da figura humana.


Perspectiva: técnica dominada com habilidade pelos romanos, gerando sensação convincente de profundidade nas representações arquitetônicas e paisagísticas.


Uso de cores intensas e vibrantes: utilização frequente de tons como vermelhos, ocres e azuis.


Variedade temática: abordava desde cenas mitológicas e retratos até paisagens e cenas cotidianas, proporcionando um panorama detalhado da vida romana.



Técnicas e materiais usados

 

No que se refere às técnicas e materiais utilizados, os romanos empregavam, em geral, técnicas de afresco e têmpera. A técnica do afresco consistia em pintar sobre argamassa fresca e úmida feita de cal e areia, de modo que as cores penetrassem na superfície e se tornassem permanentes após a secagem. Já a têmpera era realizada com pigmentos misturados a um aglutinante, como ovo, mel ou cola animal, sendo aplicada sobre superfícies secas. Os pigmentos eram extraídos principalmente de minerais, sendo moídos até virar pó fino, resultando em cores vivas e duradouras. Além desses métodos principais, havia também a técnica encáustica, em que os pigmentos eram misturados com cera quente, conferindo uma textura brilhante e resistente às pinturas.

 

Pintura de um mural retratando casas e construções romanas

Pintura de um mural de uma casa romana (60 a.C.)



Os três principais estilos

 

Dentro da pintura romana antiga é possível identificar três estilos principais, cada um deles correspondendo a diferentes períodos históricos e sensibilidades artísticas.

 

1. Estilo pompeiano: desenvolvido especialmente nas cidades próximas ao Vesúvio, como Pompeia e Herculano. Este estilo caracteriza-se pelo uso abundante de decorações geométricas e vegetais, intercaladas por cenas mitológicas detalhadas. Além disso, apresentava-se frequentemente dividido em painéis, molduras e frisos decorativos, demonstrando uma clara preferência pela organização simétrica e harmônica dos elementos visuais.


2. Estilo augustano: corresponde ao período governado pelo imperador Augusto, marcado por um renascimento da arte clássica grega, enfatizando equilíbrio, harmonia e sobriedade. Neste estilo, observa-se uma retomada das formas tradicionais gregas, sobretudo em representações idealizadas e suaves do corpo humano, bem como uma utilização mais frequente de temas heroicos e alegóricos associados ao poder imperial. As composições tendiam à sobriedade formal, valorizando o rigor e o refinamento técnico.


3. Estilo flaviano: surgido durante o período da dinastia Flávia, caracteriza-se por uma maior complexidade ornamental e pela exuberância decorativa. Nesse estilo, as paredes eram preenchidas com elementos extremamente elaborados, como flores, pássaros, grinaldas e festões. As pinturas flavianas utilizavam frequentemente a técnica da ilusão óptica, criando perspectivas complexas que davam aos ambientes internos um aspecto grandioso e teatral. Observa-se também, nesse período, uma preferência pelo uso de cores mais intensas e contrastantes, refletindo um gosto mais refinado e sofisticado da sociedade romana daquela época.

 

Pintura romana retratando pessoas e anjos, numa cena de casamento.

Pintura de mural romana, retratando um casamento, encontrado na cidade de Pompeia (por volta de 68 a.C.)

 

 

Temas e motivos das pinturas romanas

 

No campo dos temas e motivos abordados nas pinturas romanas antigas, três categorias principais se destacam: as cenas mitológicas, as cenas de gênero e as paisagens. A representação mitológica era especialmente importante devido à influência cultural grega, muito admirada pelos romanos. Os mitos gregos apareciam com frequência nas paredes das casas, vilas e edifícios públicos, retratando histórias de heróis, deuses e seres fantásticos, servindo tanto para ornamentação quanto como símbolo de status social e cultural dos proprietários.


As cenas de gênero, por outro lado, retratavam momentos do cotidiano romano, como banquetes, festas, jogos e outras atividades sociais e domésticas. Esse tipo de pintura oferece informações valiosas sobre os hábitos e costumes da sociedade romana, revelando detalhes sobre vestuário, alimentação, mobiliário e entretenimento da época. Tais representações demonstram também o apreço dos romanos pela vida social e pela celebração pública e privada.


Por fim, as pinturas de paisagens naturais e arquitetônicas tinham por objetivo principal criar uma sensação de amplitude espacial, muitas vezes simulando janelas que davam para cenários externos. As paisagens eram geralmente idealizadas, combinando elementos naturais como árvores, montanhas, rios e mares, com construções arquitetônicas, jardins e templos estilizados. Essa temática era especialmente comum em residências mais luxuosas, onde buscava-se criar uma atmosfera tranquila e agradável, conectando visualmente o ambiente interno com o mundo externo.

 

Pintura romana antiga retratando pessoas

Afresco romano retratando a punição de Íxion, Casa dos Vécios: pintura encontrada em Pompeia (por volta de 79 a.C.)

 

 

As influências gregas

 

A pintura romana antiga foi profundamente influenciada pela pintura grega, sobretudo em função da dominação cultural que a Grécia exerceu sobre Roma após as conquistas militares romanas nos territórios helênicos. Os romanos admiravam profundamente a arte grega, considerando-a um ideal de sofisticação e excelência estética. Como resultado, muitos artistas gregos foram trazidos para Roma, onde passaram a trabalhar sob encomenda para as elites locais, levando consigo técnicas, estilos e temáticas que acabaram moldando a tradição pictórica romana.


Entre os aspectos mais significativos dessa influência, destaca-se a adoção de temas mitológicos e cenas idealizadas da natureza, ambos recorrentes na pintura grega. Além disso, os romanos herdaram dos gregos o uso da perspectiva para sugerir profundidade e volume, bem como o emprego de sombreamento (chiaroscuro) para dar realismo às figuras. Muitos murais romanos, especialmente os encontrados em cidades como Pompéia e Herculano, evidenciam essa herança, reproduzindo estilos helenísticos e até mesmo copiando diretamente obras gregas anteriores. Dessa forma, a pintura grega não apenas influenciou a técnica e os temas romanos, mas também consolidou um modelo artístico que os romanos consideravam digno de preservação e emulação.

 



Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela Universidade de São Paulo).

Publicado em 02/04/2025