Epicuro
Epicuro foi um filósofo grego da Antiguidade que fundou a escola do epicurismo, defendendo a busca do prazer moderado, da amizade e da ausência de perturbações como caminho para a felicidade.

Quem foi Epicuro
Epicuro foi um filósofo grego da Antiguidade que viveu entre os séculos IV e III a.C. e que fundou uma das mais influentes escolas de pensamento da época helenística: o Epicurismo. Sua filosofia se destacou por propor uma ética voltada para a busca da felicidade e da ataraxia (ausência de perturbações), distanciando-se dos modelos tradicionais da filosofia grega que enfatizavam a contemplação racional ou a política. Epicuro defendia uma vida simples, pautada no prazer moderado e na amizade, como os caminhos mais seguros para alcançar uma existência plena e serena. Foi considerado um pensador materialista, no sentido em que rejeitava explicações sobrenaturais e buscava compreender a realidade por meio de princípios naturais.
Biografia
Epicuro nasceu na ilha de Samos, uma colônia grega na costa da Ásia Menor, por volta de 341 a.C. Filho de pais atenienses, foi educado inicialmente na tradição filosófica platônica e mais tarde teve contato com os ensinamentos de Demócrito, cuja teoria atomista teve grande influência sobre seu pensamento.
Por volta de 306 a.C., Epicuro fundou sua própria escola em Atenas, conhecida como "O Jardim", que se tornou célebre por seu ambiente acolhedor e por incluir mulheres e escravizados em seus debates, algo incomum na Grécia Antiga.
Diferente da Academia de Platão ou do Liceu de Aristóteles, a escola epicurista tinha um caráter mais íntimo e ético, priorizando a vida prática e a amizade.
Epicuro escreveu cerca de trezentas obras, das quais apenas fragmentos e algumas cartas foram preservadas, sendo as "Cartas a Heródoto", "a Meneceu" e "a Pitocles", além de algumas máximas, as fontes principais de seu pensamento.
Faleceu por volta de 270 a.C., em Atenas, deixando um legado que seria difundido por séculos, mesmo diante da oposição de correntes rivais, como o Estoicismo e o Cristianismo nascente.
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Epicuro: um dos grandes pensadores da Grécia Antiga. |
Principais ideias filosóficas:
• Epicuro desenvolveu uma filosofia pautada na ética do prazer, mas que diferia significativamente das concepções vulgares do hedonismo. Para ele, o prazer verdadeiro não estava no gozo desenfreado dos sentidos, mas na eliminação da dor e na serenidade da alma. A felicidade seria alcançada através de uma vida simples, da prudência, do autoconhecimento e da convivência amistosa com pessoas confiáveis.
• Um dos pilares de sua filosofia era a teoria atomista, herdada de Demócrito. Epicuro acreditava que tudo no universo era composto por átomos em movimento no vácuo, rejeitando a ideia de intervenção divina nos assuntos humanos. Com isso, ele libertava o ser humano do medo dos deuses e da morte. A morte, segundo ele, não deveria ser temida, pois quando ela ocorre, não há mais sensação nem consciência, e, portanto, não há sofrimento: "A morte nada é para nós".
• Outro ponto importante de sua filosofia é a divisão dos prazeres em três tipos: os prazeres naturais e necessários (como comida e abrigo), os naturais, mas não necessários (como banquetes luxuosos), e os nem naturais, nem necessários (como ambição e fama). Epicuro recomendava buscar apenas os prazeres naturais e necessários, pois estes são os que verdadeiramente sustentam a vida sem gerar dependências e perturbações.
• A amizade também ocupava um lugar central em sua ética. Epicuro via os amigos como fundamentais para a manutenção da serenidade e da felicidade, uma vez que proporcionavam apoio mútuo e segurança emocional.
O legado de Epicuro para a Filosofia
O legado de Epicuro para a filosofia é profundo e multifacetado. Ele contribuiu decisivamente para a valorização da experiência pessoal e do bem-estar subjetivo na tradição filosófica ocidental, influenciando não apenas pensadores da Antiguidade, mas também correntes modernas da ética e do pensamento científico.
Durante o período romano, o epicurismo encontrou grande ressonância, especialmente nas obras do poeta e filósofo Lucrécio, autor de "De Rerum Natura", que difundiu os princípios atomistas e éticos de Epicuro. Já na Idade Média, sua filosofia foi amplamente rejeitada e associada erroneamente ao hedonismo vulgar, sobretudo pela crítica cristã, que via sua concepção de prazer como moralmente perigosa.
No entanto, com o Renascimento e, mais ainda, no Iluminismo, Epicuro voltou a ser lido e valorizado por filósofos como Pierre Gassendi, que procuraram reconciliar seu materialismo com os avanços da ciência moderna. No século XIX, sua influência pode ser sentida nas obras de utilitaristas como Jeremy Bentham e John Stuart Mill, que também colocaram o prazer e a felicidade como princípios centrais da moralidade.
Vale destacar também que o pensamento epicurista permanece atual ao propor uma filosofia prática da vida, voltada para o equilíbrio, a lucidez e a liberdade interior. Em um mundo marcado por excessos, inseguranças e ansiedades, a busca epicurista por uma existência simples e livre de temores se mostra, ainda hoje, uma fonte relevante de reflexão filosófica e ética.
Por Jefferson Evandro Machado Ramos - graduado em História pela USP
Publicado em 14/04/2025
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Bibliografia e vídeos indicados:
GALLO, Sílvio. Filosofia: experiência do pensamento. São Paulo: Scipione, 2023.
Vídeo indicado no YouTube:
A FILOSOFIA DE EPICURO E A BUSCA PELA FELICIDADE E ATARAXIA - Canal Parabólica