Período da Filosofia Moderna

A Filosofia Moderna é o período do pensamento ocidental que, entre os séculos XVI e XVIII, marcou a valorização da razão e da experiência como fundamentos do conhecimento, rompendo com a tradição escolástica medieval.

George Berkeley: filósofo empirista da Filosofia Moderna.
George Berkeley: filósofo empirista da Filosofia Moderna.



O que é a Filosofia Moderna?


O Período da Filosofia Moderna corresponde a uma das mais significativas transformações do pensamento ocidental, abrangendo aproximadamente os séculos XVI ao XVIII. Este período é caracterizado pelo rompimento com a tradição escolástica medieval e pela valorização da razão e da experiência como caminhos legítimos para o conhecimento.


Inserida no contexto das Revoluções Científica, Religiosa e Política, a Filosofia Moderna buscou responder a novas perguntas surgidas com o advento do mundo moderno, especialmente no que diz respeito à natureza do conhecimento, à relação entre sujeito e objeto e ao papel do ser humano no universo.


Nesse cenário, duas correntes filosóficas principais se destacaram: o Racionalismo e o Empirismo. Ambas buscavam compreender como o ser humano pode alcançar o conhecimento verdadeiro, mas divergiam profundamente quanto às fontes e aos métodos para tal. Enquanto o Racionalismo atribuía à razão o papel fundamental na construção do saber, o Empirismo enfatizava a experiência sensível como origem de todo conhecimento. Essas duas perspectivas influenciaram diretamente não apenas o campo da filosofia, mas também a ciência, a política e a ética, marcando de forma definitiva a história do pensamento ocidental.



As duas correntes da Filosofia Moderna:



1. Racionalismo


O Racionalismo foi uma corrente filosófica que defendeu a primazia da razão como meio para alcançar o conhecimento verdadeiro. Segundo os racionalistas, certas verdades são inatas e independem da experiência sensível. O mundo pode ser compreendido por meio da dedução lógica e do uso apropriado da razão, partindo de princípios universais e evidentes por si mesmos.

Entre as características do Racionalismo, destacam-se a crença na existência de ideias inatas, a valorização dos métodos matemáticos como modelo de certeza e a confiança na razão como ferramenta segura para o conhecimento. Os racionalistas procuravam construir sistemas filosóficos rigorosos, nos quais todas as ideias fossem derivadas logicamente de princípios primeiros.

Entre os principais representantes do Racionalismo estão René Descartes, Baruch Spinoza e Gottfried Wilhelm Leibniz. Estes pensadores formularam sistemas complexos nos quais a razão desempenha papel central na compreensão da realidade. Suas obras não apenas influenciaram a filosofia, mas também serviram de base para o desenvolvimento das ciências naturais e da lógica.



2. Empirismo


Em contraposição ao Racionalismo, o Empirismo é a corrente filosófica que sustenta que todo conhecimento deriva da experiência sensível. Para os empiristas, a mente humana é uma tábula rasa no nascimento, sendo preenchida gradativamente por impressões e experiências adquiridas ao longo da vida.

As principais características do Empirismo incluem a rejeição das ideias inatas, a ênfase na observação e na experimentação como fontes legítimas de conhecimento e a valorização da indução como método lógico. Os empiristas acreditavam que somente por meio da análise dos dados sensoriais seria possível construir um conhecimento confiável do mundo.

Dentre os pensadores mais representativos do Empirismo, destacam-se John Locke, George Berkeley e David Hume. Esses filósofos ofereceram interpretações distintas, mas complementares, sobre a natureza do conhecimento, da percepção e da causalidade, estabelecendo as bases da filosofia moderna anglo-saxônica e influenciando profundamente a ciência e a epistemologia contemporâneas.



Exemplos de pensadores da Filosofia Moderna:



René Descartes (1596–1650)

Descartes é considerado o pai da Filosofia Moderna e um dos maiores representantes do Racionalismo. Sua filosofia parte da dúvida metódica, culminando na célebre máxima "Penso, logo existo". Descartes buscava fundamentos indubitáveis para o conhecimento, e sua filosofia defendeu a razão como meio para alcançar verdades universais. Suas principais obras incluem "Discurso do Método", "Meditações Metafísicas" e "Princípios de Filosofia".


John Locke (1632–1704)

Locke foi um dos principais expoentes do Empirismo e defensor da teoria da tábula rasa. Para ele, todas as ideias provêm da experiência, seja ela sensorial ou reflexiva. Locke também contribuiu significativamente para a filosofia política, defendendo os direitos naturais e o governo baseado no consentimento dos governados. Entre suas principais obras destacam-se "Ensaio sobre o Entendimento Humano" e "Segundo Tratado sobre o Governo".


Baruch Spinoza (1632–1677)

Spinoza foi um racionalista que desenvolveu um sistema filosófico de forte inspiração geométrica. Ele acreditava na existência de uma única substância, Deus ou Natureza, da qual todas as coisas são modos. Rejeitando a dualidade entre mente e corpo, Spinoza propôs uma visão panteísta do mundo. Sua obra mais importante é "Ética", escrita segundo o modelo dos "Elementos" de Euclides.


George Berkeley (1685–1753)

Berkeley foi um filósofo empirista que defendeu o idealismo, sustentando que a existência dos objetos depende de serem percebidos. Sua célebre máxima "ser é ser percebido" expressa a centralidade da percepção sensível em sua filosofia. Berkeley também se opôs ao materialismo e propôs uma concepção espiritualista do mundo. Sua principal obra é "Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano".


Gottfried Wilhelm Leibniz (1646–1716)

Leibniz foi um racionalista que desenvolveu uma metafísica original, baseada na ideia de mônadas, substâncias indivisíveis que constituem a realidade. Defensor da harmonia preestabelecida entre mente e corpo, Leibniz acreditava que vivemos no melhor dos mundos possíveis, ideia que seria posteriormente criticada por Voltaire. Suas principais contribuições estão em "Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano" e "Monadologia".


David Hume (1711–1776)

Hume é um dos maiores representantes do Empirismo e precursor do ceticismo moderno. Ele questionou a validade da causalidade, argumentando que não há fundamento racional para afirmar que um evento causa outro, apenas o hábito de associá-los. Para Hume, todas as ideias derivam de impressões sensíveis, e as noções metafísicas devem ser analisadas criticamente. Suas principais obras são "Tratado da Natureza Humana" e "Investigação sobre o Entendimento Humano".

 

Retrato pintado do filósofo David Hume

David Hume: um dos principais pensadores da Filosofia Moderna




Qual foi o legado da Filosofia Moderna?


O legado da Filosofia Moderna é vasto e multifacetado, tendo influenciado profundamente a filosofia, a ciência, a política e a cultura ocidental como um todo. Ao deslocar o centro da reflexão filosófica para o sujeito e suas faculdades cognitivas, este período lançou as bases da epistemologia contemporânea. As discussões sobre razão, experiência, liberdade, individualidade e conhecimento marcaram a transição para a modernidade e abriram caminho para o Iluminismo, o Idealismo Alemão e as correntes críticas do século XIX. A Filosofia Moderna contribuiu ainda para a consolidação da ciência como atividade autônoma e racional, assim como para a valorização da liberdade de pensamento e da autonomia do indivíduo.

 

 


 


Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Publicado em 31/03/2025