Cultura da Região Centro-Oeste do Brasil

A cultura da região Centro-Oeste do Brasil é resultado da interação entre influências indígenas, africanas e portuguesas, manifestando-se em tradições religiosas, culinária típica, festividades populares e no forte vínculo com a pecuária.

 

Introdução


A região Centro-Oeste do Brasil é composta pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal, onde está localizada a capital do país, Brasília. Situada no coração do território brasileiro, essa região desempenha um papel fundamental na economia nacional, especialmente no setor agropecuário. Historicamente, a ocupação da região está ligada às expedições bandeirantes e ao avanço da pecuária no período colonial, além de ter sido fortemente influenciada pela construção de Brasília no século XX.

 

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E MANIFESTAÇÕES DA CULTURA DA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL:

1. Formação cultural: as influências portuguesas, indígenas e africanas

A cultura portuguesa influenciou significativamente a formação do Centro-Oeste brasileiro, especialmente a partir do século XVIII, com a exploração do ouro e a expansão pecuária. A religião católica moldou tradições e festas populares, enquanto a arquitetura colonial deixou marcas em igrejas e casarões. A culinária incorporou ingredientes e preparos lusitanos, como o arroz, o feijão e os doces conventuais. Além disso, a organização fundiária seguiu modelos portugueses, impulsionando a pecuária e fortalecendo costumes como a música sertaneja.

A cultura da região Centro-Oeste também é marcada pela presença de diversos povos indígenas, como os Xavante, Bororo, Karajá e Terena, que ainda preservam suas tradições, línguas e costumes. A influência indígena está presente na culinária, no artesanato e nas manifestações culturais, como os rituais e as danças tradicionais.



A presença africana, por sua vez, está especialmente associada às manifestações religiosas e à música, sendo evidente em festas populares e na culinária.

2. Folclore

O folclore da região Centro-Oeste do Brasil é marcado por uma rica diversidade de lendas, manifestações culturais e tradições populares que refletem a influência indígena, africana e europeia na formação cultural da região. Entre as lendas mais conhecidas, destacam-se a do Minhocão do Pari, uma gigantesca serpente aquática que assombra rios e lagos, e a do Pé-de-Garrafa, uma criatura mítica com um único pé em formato de garrafa que vive nas matas e engana viajantes.

3. Festas populares

 

A Festa do Divino é uma das mais importantes celebrações populares do Centro-Oeste do Brasil, especialmente em Pirenópolis, Goiás, onde ocorre com grande participação da comunidade. De origem religiosa, a festividade homenageia o Espírito Santo e combina missas, procissões e rituais católicos com manifestações folclóricas, como as Cavalhadas, representações teatrais medievais que simbolizam a luta entre cristãos e mouros. Com músicas, danças e trajes típicos, a festa reflete a rica herança cultural da região, sendo um evento que preserva tradições históricas e reforça o sentimento de identidade local.

As Cavalhadas de Pirenópolis, realizadas em Goiás, são uma encenação teatral de origem medieval que simboliza a batalha entre cristãos e mouros, representando a vitória da fé cristã sobre os infiéis. Durante três dias de festividades, cavaleiros vestidos com trajes coloridos se enfrentam em justas e desafios, recriando os torneios da Idade Média. Essa tradição foi introduzida pelos colonizadores portugueses e, ao longo dos séculos, se adaptou à cultura local, tornando-se um dos maiores espetáculos folclóricos do Centro-Oeste.


Já a Festa de São Benedito, comemorada em diversas cidades da região, tem forte ligação com a cultura afro-brasileira e homenageia São Benedito, o santo padroeiro dos negros e dos mais humildes. A celebração conta com missas, procissões e a tradicional dança do congo, manifestação cultural de origem africana que combina música, dança e religiosidade. Essa festa é uma expressão da fé popular e da resistência das tradições afrodescendentes no Centro-Oeste, promovendo um encontro entre diferentes heranças culturais.

 

 

4. Música regional tradicional

 

A música tradicional da região Centro-Oeste do Brasil é marcada pela forte influência da cultura rural e das tradições indígenas, africanas e ibéricas, refletindo a identidade dos estados que a compõem. O sertanejo raiz, com suas modas de viola e letras que retratam a vida no campo, é um dos estilos mais representativos, tendo sido popularizado por duplas caipiras e violeiros.

O cururu e o siriri, muito presentes no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, possuem ritmos animados acompanhados por instrumentos como a viola de cocho e o ganzá, sendo frequentemente associados a danças folclóricas.


No Pantanal, o chamamé se destaca como um gênero musical de origem argentina e paraguaia que se enraizou na cultura local, incorporando elementos regionais e narrando histórias sobre a vida dos pantaneiros. Além disso, as festas tradicionais da região costumam trazer manifestações musicais típicas, reforçando a diversidade e a riqueza cultural do Centro-Oeste brasileiro.

5. Danças tradicionais

 

Os estilos de danças tradicionais do centro-oeste brasileiro apresenta influências indígenas, africanas e ibéricas, sendo frequentemente associadas a festividades e manifestações populares. O siriri e o cururu são dois dos principais estilos dançantes, especialmente no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul


O siriri (que também é um ritmo musical) é uma dança animada, realizada em rodas mistas ao som da viola de cocho, do ganzá e do tamboril, e geralmente acompanha letras religiosas ou narrativas do cotidiano.

O cururu, por sua vez, tem um caráter mais masculino, sendo marcado por desafios poéticos e improvisados entre os participantes.

Outra dança de destaque na região é o chamamé (que também é um ritmo musical), de forte influência paraguaia e argentina, que se popularizou no Pantanal e é caracterizado por movimentos suaves e melódicos. Essas danças fazem parte do patrimônio cultural do Centro-Oeste, sendo preservadas em festas populares e eventos folclóricos que mantêm vivas as tradições da região.

 

O siriri é uma manifestação cultural típica da região Centro-Oeste do Brasil, especialmente do estado de Mato Grosso, onde se apresenta tanto como dança quanto como ritmo musical, refletindo as influências indígenas e ibéricas presentes na cultura local. Com um compasso animado e marcado por instrumentos como a viola de cocho, o ganzá e o tamboril, sua musicalidade acompanha coreografias em roda, nas quais homens e mulheres dançam de forma sincronizada, com palmas e sapateados que reforçam o caráter festivo da apresentação. Tradicionalmente ligado a celebrações populares e religiosas, o siriri é uma expressão de identidade das comunidades mato-grossenses, transmitindo histórias, crenças e valores por meio da música e da dança, preservando as raízes culturais da região Centro-Oeste.

6. Culinária

A culinária do Centro-Oeste é fortemente influenciada pelos ingredientes locais e pelas tradições indígenas e pantaneiras. Entre os pratos mais conhecidos estão a sopa paraguaia, uma espécie de bolo salgado à base de milho e queijo, e a mojica de pintado, um ensopado de peixe típico do Pantanal.

Outros pratos tradicionais incluem o arroz com pequi, fruto de sabor característico amplamente utilizado na região, e o empadão goiano, recheado com frango, queijo e guariroba.

 

Um dos pratos que mais representa a culinária da região Centro-Oeste do Brasil é a mojica de pintado, uma receita tradicionalmente preparada com o peixe pintado, muito comum nos rios do Pantanal e da bacia do Rio Paraguai. Do ponto de vista cultural, a mojica reflete a forte influência dos hábitos alimentares das populações ribeirinhas e pantaneiras, que valorizam ingredientes locais e técnicas culinárias passadas de geração em geração. Já no aspecto gastronômico, trata-se de um ensopado espesso, feito com pedaços de peixe cozidos em um caldo temperado com alho, cebola, pimentão e coentro, engrossado com mandioca, um ingrediente típico da culinária brasileira. Servida geralmente com arroz branco e pirão, a mojica de pintado destaca a riqueza dos sabores do Centro-Oeste e sua relação com os recursos naturais da região, sendo um prato essencial em festividades e encontros familiares.

7. Patrimônio cultural

Sítios Arqueológicos


A região Centro-Oeste abriga importantes sítios arqueológicos que testemunham a presença de civilizações antigas. O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, localizado em Mato Grosso, é um dos principais locais de interesse arqueológico, contendo diversas pinturas rupestres e vestígios de ocupação humana datados de milhares de anos. Outros sítios arqueológicos, como a Serra das Araras, também são relevantes para o estudo das culturas pré-coloniais da região.

Cidades Históricas


O Centro-Oeste também é lar de cidades históricas que preservam parte do patrimônio arquitetônico e cultural do Brasil colonial. A cidade de Goiás, antiga capital do estado de Goiás, é um exemplo significativo, com seu centro histórico tombado como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Suas ruas de pedra e construções coloniais refletem a história da exploração do ouro na região. Pirenópolis é outra cidade histórica de destaque, famosa não apenas pela arquitetura colonial, mas também pelas festas tradicionais, como a Festa do Divino.

 

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário: localizada em Pirenópolis, Goiás, é um dos mais importantes monumentos históricos e culturais da região Centro-Oeste do Brasil. Construída no século XVIII, sua arquitetura em estilo colonial reflete a influência da tradição barroca e a importância da fé católica no desenvolvimento da cidade, que teve sua economia impulsionada pela mineração de ouro. Como símbolo da identidade cultural de Pirenópolis, a igreja é o centro das festividades religiosas locais, como a tradicional Festa do Divino, que mistura elementos da religiosidade popular com manifestações folclóricas. Apesar de ter sofrido um grande incêndio em 2002, sua reconstrução preservou características originais, reforçando seu valor como patrimônio histórico. Hoje, a Igreja Matriz continua sendo um marco da cidade, atraindo fiéis e turistas que buscam conhecer a história e a cultura do interior goiano.

 

 

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Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Publicado em 20/02/2025