Método Socrático: maiêutica, ironia e argumentação

O método socrático é de grande valor nos diálogos e na argumentação.

 

O que é o método socrático?

 

O Método Socrático, um pilar da filosofia ocidental, é uma abordagem de ensino e conversação caracterizada pelo ato de fazer e responder perguntas para estimular o pensamento crítico e iluminar ideias. Esse método está intimamente associado a Sócrates, o filósofo grego clássico, que o utilizava como técnica para explorar as crenças, suposições e valores subjacentes de seus interlocutores. Este método também apresenta grande valor na prática da argumentação.

A ironia no método socrático


A ironia, especificamente a ironia socrática, desempenha um papel fundamental neste método. Sócrates frequentemente fingia ignorância ou professava saber menos do que realmente sabia. Esse ato de fingir não saber não era apenas um truque retórico; tinha propósitos pedagógicos mais profundos. Ao adotar uma posição de ignorância, Sócrates incentivava os outros a expressarem suas visões integralmente, pois eles se sentiam menos intimidados e mais abertos em uma conversa com alguém que parecia ser um colega inquiridor, em vez de um professor autoritário. Esta técnica ajudava a revelar contradições e problemas nos argumentos de seus parceiros de conversa, abrindo caminho para uma investigação e reflexão mais profundas.

A maiêutica no método socrático

Maiêutica é outro elemento essencial do Método Socrático. É a arte intelectual de trazer à tona as ideias e conhecimentos latentes em uma pessoa. Sócrates se comparava a uma parteira que, apesar de ser estéril em termos de seu próprio conhecimento, poderia ajudar os outros a dar à luz seus pensamentos. Esta parte do método envolve uma série de perguntas e respostas que desafiam suposições e levam o interlocutor a um entendimento ou realização mais profunda. O objetivo não é ensinar informações, mas guiar os outros na descoberta de verdades por si mesmos.

 

Qual a importância desse método filosófico?

 

O Método Socrático, por meio do uso da ironia e da maiêutica, promove um ambiente onde o conhecimento não é recebido passivamente, mas construído ativamente. A ironia serve para desarmar e envolver, enquanto a maiêutica nutre o desenvolvimento do pensamento crítico e autoconhecimento. É um método que encoraja as pessoas a questionarem suas crenças e chegarem a conclusões baseadas em razão e evidência, em vez de depender de autoridade ou premissas não examinadas. Essa abordagem influenciou métodos pedagógicos modernos, encorajando educadores a adotarem questionamentos e discussões ativas em sala de aula.

 

 

O Método Socrático na argumentação:

 

O método socrático pode ser uma ferramenta poderosa na argumentação por várias razões:


• Encoraja o pensamento crítico: ao fazer uma série de perguntas investigativas, incentiva os indivíduos a pensar mais profundamente sobre suas crenças e a razão por trás de seus argumentos. Isso pode levar a um entendimento mais completo do assunto.


• Revela suposições: ajuda a descobrir suposições que podem estar subjacentes aos pensamentos ou argumentos de alguém. Ao expor essas suposições, o argumento pode ser fortalecido se as suposições forem válidas ou enfraquecido se não forem.


• Esclarece conceitos: por meio de questionamentos persistentes, auxilia na definição e esclarecimento de conceitos-chave em um argumento. Essa precisão no entendimento pode levar a uma comunicação e argumentação mais eficazes.


• Testa a consistência: ele serve para examinar a consistência de um argumento. Ao questionar sistematicamente os vários aspectos de um argumento, inconsistências e contradições podem ser trazidas à luz, oferecendo uma oportunidade para refinamento e melhoria.


• Facilita a autodescoberta: em vez de dizer a alguém que está errado, o método socrático guia-o para descobrir por conta própria falhas em seu raciocínio. Isso pode ser mais persuasivo e menos conflituoso, levando a um processo argumentativo mais produtivo.


• Promove diálogo aberto: fomenta um ambiente de diálogo aberto e argumentação cooperativa em vez de debate com confrontos desnecessários. Isso pode levar a uma exploração mais aprofundada do assunto e a uma troca de ideias mais respeitosa.

 

 

Método Socrático: grande valor no processo de argumentação.

 

 

Como se deve argumentar, numa situação prática, usando o método socrático?

 

1. Faça perguntas de esclarecimento: comece pedindo ao seu interlocutor para esclarecer sua posição ou crença. Por exemplo, se ele disser, "Democracia é o direito humano mais importante", você pode perguntar, "O que exatamente você entende por democracia?"


2. Investigue suposições: uma vez esclarecida a afirmação, desafie as suposições por trás dela. Continuando com o exemplo, pergunte, "Por que você acredita que a democracia é o direito mais importante?"


3. Continue com as consequências: explore as consequências lógicas do ponto de vista deles. "Se a democracia é o direito mais importante, isso significa que ela sempre deve ser priorizada sobre outros direitos como segurança, liberdade ou igualdade?"


4. Use contrarrazões: apresente cenários ou contrarrazões que desafiem o ponto de vista deles. "Você consegue pensar em situações onde outros direitos possam precisar ter precedência sobre a democracia?"


5. Incentive a autorreflexão: estimule a autorreflexão. "Você sempre acreditou nisso, ou houve vezes em que priorizou outros direitos em detrimento da democracia?"


6. Resuma e sintetize: resuma regularmente o que foi discutido para garantir um entendimento mútuo e sintetize novas percepções. "Então, parece que, embora você considere a democracia como um direito chave, existem situações onde outros direitos podem ser mais importantes."


7. Mantenha o respeito e a mente aberta: seja respeitoso e genuinamente curioso ao invés de confrontador. O objetivo não é 'vencer', mas explorar ideias profundamente.


8. Adapte-se e aprenda: esteja disposto a adaptar suas próprias visões com base no diálogo. O questionamento socrático é tanto sobre examinar suas próprias crenças quanto as dos outros.

 

 

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Publicado em 09/04/2024

Por Jefferson E. M. Ramos (graduado em História pela USP)