A Agricultura na Antiga Mesopotâmia

A agricultura na antiga Mesopotâmia foi a base da sobrevivência e do desenvolvimento das primeiras civilizações, sustentada por avançados sistemas de irrigação e profundamente integrada às crenças religiosas e à organização social.

Os mesopotâmicos criaram canais de irrigação para melhorar a eficiência da agricultura.
Os mesopotâmicos criaram canais de irrigação para melhorar a eficiência da agricultura.



Introdução


A Mesopotâmia, localizada entre os rios Tigre e Eufrates, foi o berço de algumas das primeiras civilizações da humanidade, como os sumérios, assírios e babilônios. Uma das bases fundamentais para o desenvolvimento dessas sociedades foi a prática agrícola, que garantiu a subsistência da população, promoveu o crescimento das cidades e impulsionou o progresso econômico e cultural.



Onde e como era praticada a agricultura na Mesopotâmia?


A Mesopotâmia, conhecida como "terra entre rios", corresponde ao atual território do Iraque e partes da Síria, Turquia e Irã. A região era propícia para a agricultura devido à presença dos rios Tigre e Eufrates, que proporcionavam água e solos férteis. No entanto, o regime irregular das chuvas e as cheias imprevisíveis dos rios tornavam o cultivo um desafio.


Para superar essas dificuldades, os mesopotâmicos desenvolveram avançadas técnicas de irrigação, criando um dos primeiros sistemas de canais da história. Esses canais permitiam levar a água dos rios para os campos cultivados, garantindo o abastecimento hídrico necessário durante os períodos de seca. Além dos canais, construíram represas, reservatórios e diques para controlar as inundações e armazenar água para os períodos de estiagem. A prática agrícola também envolvia a preparação do solo por meio de arados de madeira, frequentemente puxados por bois, o que facilitava o plantio em larga escala.

 

Figura ilustrativa de agricultores da Mesopotâmia cultivando a terra, usando arado puxado por bois.

Na agricultura da antiga Mesopotâmia, o arado puxado por bois era uma das principais ferramentas utilizadas para preparar o solo. Esse método facilitava o plantio em larga escala, especialmente nas terras férteis próximas aos rios Tigre e Eufrates. O arado era geralmente feito de madeira e tinha uma estrutura simples, mas era altamente eficaz para abrir sulcos no solo, onde as sementes eram lançadas. Essa tecnologia agrícola foi crucial para aumentar a produtividade e garantir o sustento das populações crescentes das cidades-estado mesopotâmicas.

 



Quais produtos agrícolas eram produzidos?


Os povos mesopotâmicos cultivavam uma variedade de produtos agrícolas, essenciais para sua alimentação e economia. Entre os principais estavam os cereais, como o trigo e a cevada, que constituíam a base da dieta e eram usados para produzir pão e cerveja. A cevada, em especial, era um dos cultivos mais comuns, devido à sua resistência às condições climáticas locais.


Além dos cereais, a agricultura mesopotâmica também incluía leguminosas, como lentilhas e grão-de-bico, e hortaliças, como cebola, alho, pepino e alface. As frutas desempenhavam um papel importante, destacando-se as tâmaras, uvas, figos, maçãs e romãs, frequentemente consumidas frescas ou transformadas em vinho e xaropes. Outro cultivo de grande relevância foi o linho, utilizado para a produção de tecidos. A criação de animais, como ovelhas, cabras e gado, complementava a produção agrícola, fornecendo leite, carne e couro.



Qual foi a importância da agricultura para os povos mesopotâmicos?


A agricultura foi a base econômica da sociedade mesopotâmica, garantindo a produção de alimentos em quantidade suficiente para sustentar a população crescente. O excedente agrícola permitiu o surgimento de atividades comerciais, com a troca de produtos entre cidades e regiões vizinhas, o que impulsionou o desenvolvimento de mercados e rotas comerciais.


Além do impacto econômico, a agricultura teve uma profunda influência social e cultural. O controle das terras agrícolas e dos sistemas de irrigação era uma questão central para a organização política das cidades-estado, e muitas das práticas religiosas mesopotâmicas estavam diretamente relacionadas à agricultura e à fertilidade da terra. Os deuses eram frequentemente associados ao ciclo das colheitas, e festivais religiosos celebravam a abundância ou buscavam proteção contra catástrofes naturais.


Por fim, o desenvolvimento da escrita cuneiforme está diretamente ligado à agricultura, uma vez que os primeiros registros escritos eram, em grande parte, documentos relacionados à administração agrícola, como listas de estoques, transações comerciais e registros de impostos sobre a produção rural. Assim, a agricultura não apenas alimentou as populações mesopotâmicas, mas também proporcionou as bases para a organização social, econômica e cultural dessas civilizações.



Quais as relações entre a agricultura e a religião e crenças dos povos mesopotâmicos?

 

A agricultura na Mesopotâmia estava profundamente ligada às crenças religiosas, mitos e rituais dos povos que habitavam a região. Os ciclos agrícolas, marcados pelas estações do ano e pela periodicidade das cheias dos rios Tigre e Eufrates, eram interpretados como manifestações diretas da vontade divina. Os mesopotâmicos acreditavam que a fertilidade da terra e o sucesso das colheitas dependiam da benevolência dos deuses, especialmente aqueles associados à natureza e à agricultura, como Enlil, deus dos ventos e das tempestades, e Enki, deus das águas e da sabedoria. Rituais específicos eram realizados para assegurar boas colheitas, incluindo oferendas de alimentos e sacrifícios em templos.


Além dos rituais, as práticas agrícolas influenciavam profundamente as festividades religiosas. Um exemplo é o festival de Akitu, celebrado no início da primavera, que marcava o ano novo e simbolizava a renovação da vida e da fertilidade da terra. Nesse contexto, as colheitas não eram apenas uma questão de sobrevivência, mas um ato sagrado. Os reis, considerados intermediários entre os deuses e o povo, participavam diretamente desses rituais, reforçando a relação entre religião e poder político. Assim, a agricultura não era vista apenas como uma atividade econômica, mas como parte integrante da ordem cósmica, com cada fase do plantio e da colheita refletindo a harmonia ou o desequilíbrio entre o mundo humano e o divino.

 

 



Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Publicado em 16/02/2025