Norbert Elias

Norbert Elias foi um sociólogo que revolucionou a compreensão das relações sociais ao analisar como o autocontrole dos indivíduos e a civilização dos costumes se desenvolveram ao longo da história.

 

Quem foi


Norbert Elias foi um sociólogo alemão reconhecido por suas contribuições ao estudo do desenvolvimento da sociedade ocidental. Seu trabalho enfatizou a interdependência entre os indivíduos e as estruturas sociais, destacando processos históricos de longo prazo que moldaram comportamentos, normas e instituições. Elias tornou-se uma figura central na sociologia contemporânea devido à sua abordagem inovadora e interdisciplinar.

Biografia


Norbert Elias nasceu em 22 de junho de 1897, na cidade de Breslávia, então parte do Império Alemão (atualmente Wrocław, na Polônia). Filho de uma família judaica de classe média, sua juventude foi marcada pela Primeira Guerra Mundial, na qual serviu no exército alemão. Após o conflito, dedicou-se aos estudos acadêmicos, obtendo formação em filosofia, psicologia e medicina antes de se especializar em sociologia.


Elias estudou na Universidade de Heidelberg e trabalhou posteriormente com Karl Mannheim em Frankfurt. Com a ascensão do nazismo, teve sua carreira interrompida e foi forçado a emigrar para a França em 1933 e, depois, para o Reino Unido.

Em terras britânicas, enfrentou dificuldades financeiras e acadêmicas, publicando apenas na maturidade seu principal trabalho, "O Processo Civilizador" (1939). Durante a Segunda Guerra Mundial, chegou a ser internado como estrangeiro inimigo, mas conseguiu sobreviver e retomar sua trajetória acadêmica. Foi professor na Universidade de Leicester e, posteriormente, lecionou na Alemanha e nos Países Baixos.

Norbert Elias faleceu em 1 de agosto de 1990, aos 93 anos, na cidade de Amsterdã (Países Baixos).

Principais ideias sociológicas:


• Processo Civilizador: Elias argumentou que as normas sociais e os comportamentos individuais foram se tornando mais refinados ao longo do tempo, com um controle mais rigoroso das emoções e impulsos. Esse processo de autocontrole foi impulsionado pela consolidação do Estado moderno e pela crescente interdependência entre os indivíduos.


• Figuração Social: o conceito de figuração enfatiza que os indivíduos não existem isoladamente, mas em redes dinâmicas de interdependência. As relações sociais estruturam o comportamento e a identidade das pessoas, tornando a sociedade um sistema em constante transformação.


• Monopolização da Violência e Formação do Estado: Elias destacou o papel do Estado na centralização do uso legítimo da força, reduzindo a violência interpessoal e estabelecendo mecanismos institucionais de regulação dos conflitos.


• Sociogênese e Psicogênese: ele analisou a relação entre transformações históricas e mudanças psicológicas nos indivíduos, argumentando que os processos sociais de longa duração influenciam a construção da subjetividade e das emoções humanas.


• Barreiras do Nós e Eles: Elias estudou as divisões sociais e os mecanismos de exclusão, mostrando como grupos sociais constroem identidades coletivas baseadas na diferenciação entre “nós” (o grupo de pertencimento) e “eles” (os outros, frequentemente marginalizados ou hostilizados).

Obras importantes de Norbert Elias:


• "O Processo Civilizador" (1939): principal obra de Elias, examina como os hábitos sociais e as normas de conduta foram se transformando na Europa desde a Idade Média, consolidando-se na era moderna.


• "A Sociedade dos Indivíduos" (1987): coletânea de ensaios sobre a interdependência entre indivíduo e sociedade, mostrando como o conceito de “eu” se desenvolve dentro de estruturas sociais.


• "Os Alemães: a Luta pelo Poder e a Evolução do Habitus nos Séculos XIX e XX" (1989): Analisa a formação da identidade nacional alemã e os processos sociopolíticos que levaram à ascensão do nazismo.


• "O Processo de Formação do Estado e a Civilização" (1969): estudo sobre a construção do Estado moderno, explorando a relação entre poder, burocracia e controle social.


• "Os Estabelecidos e os Outsiders" (1965): pesquisa empírica sobre desigualdades sociais e dinâmicas de exclusão, abordando como certos grupos dominam simbolicamente os outros através da distinção social.

A Teoria do Processo Civilizador

 

A teoria do processo civilizador de Norbert Elias analisa a transformação dos comportamentos sociais e do autocontrole individual ao longo da história, especialmente na Europa. Elias argumenta que, desde a Idade Média, houve um refinamento progressivo das normas de conduta, impulsionado pela consolidação do Estado moderno e pelo crescimento da interdependência entre os indivíduos. Esse processo levou à internalização de regras de etiqueta, moderação dos impulsos e maior autocontrole, tornando comportamentos antes aceitos, como a violência aberta e práticas consideradas grosseiras, socialmente inaceitáveis. A formação de uma sociedade mais estruturada e hierarquizada exigiu que as pessoas regulassem suas emoções de forma mais rigorosa, resultando em mudanças duradouras nos padrões de convivência.

Elias também destacou que esse processo não foi linear nem uniforme, mas resultado de uma complexa teia de interações sociais. O Estado teve um papel fundamental ao monopolizar o uso legítimo da violência, reduzindo conflitos interpessoais e estabelecendo normas que moldaram o comportamento das pessoas. O desenvolvimento de instituições como tribunais, exércitos e escolas reforçou esse controle social, exigindo maior disciplina e previsibilidade nas ações individuais. Assim, o processo civilizador de Elias não se restringe a uma simples evolução cultural, mas reflete uma transformação estrutural profunda nas relações humanas, marcadas por maior contenção emocional e crescente interdependência social.

 

 

Legado para a Sociologia


Norbert Elias deixou um legado fundamental para a sociologia contemporânea ao propor uma abordagem histórica e processual para o estudo das sociedades. Sua teoria do processo civilizador influenciou diversas áreas do conhecimento, incluindo a sociologia histórica, a Antropologia e os estudos culturais. Seu conceito de figuração foi essencial para compreender as relações de interdependência entre os indivíduos, destacando que as transformações sociais ocorrem de maneira gradual e coletiva. Além disso, seus estudos sobre poder, exclusão e construção da identidade continuam a ser amplamente debatidos e aplicados para compreender fenômenos sociais complexos. Elias consolidou uma perspectiva inovadora, que enfatiza a interligação entre estrutura social e comportamento individual, tornando-se uma referência essencial para o pensamento sociológico moderno.

 

 

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Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Publicado em 10/03/2025