Brasil Colonial

O período colonial brasileiro foi de 1500 a 1822 e se caracterizou, principalmente, pelo controle político e econômico de Portugal.

Engenho de açúcar da época colonial
Engenho de açúcar da época colonial

 

AS TRÊS FASES DA HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL E SUAS CARACTERÍSTICAS:

 


1. O Período Pré-Colonial: A fase do pau-brasil (1500 a 1530)


A expressão "descobrimento do Brasil" está carregada de eurocentrismo (valorização da cultura europeia em detrimento das outras), pois desconsidera a existência dos índios em nosso país, antes da chegada dos portugueses. Portanto, optamos pelo termo "chegada" dos portugueses ao Brasil. Esta ocorreu em 22 de abril de 1500, data que inaugura a fase pré-colonial.


Neste período, não houve a colonização do Brasil, pois os portugueses não se fixaram na terra. Após os primeiros contatos com os indígenas, muito bem relatados na carta de Caminha, os portugueses começaram a explorar o pau-brasil da Mata Atlântica.

 

A coroa portuguesa enviou ao Brasil dois tipos de expedições: as expedições exploradoras e as expedições guarda-costas. As primeiras tinham como objetivo fazer a exploração do pau-brasil, elaborar o mapeamento do litoral brasileiro e procurar recursos minerais. Já as segundas tinham como propósito fazer a proteção da região costeira contra tentativas de invasões estrangeiras (franceses e ingleses principalmente).

 

O pau-brasil tinha um grande valor no mercado europeu, pois sua seiva, de cor avermelhada, era muito utilizada para tingir tecidos. Para executar a sua exploração, os portugueses utilizaram o escambo, ou seja, deram espelhos, apitos, chocalhos e outras bugigangas aos nativos em troca do trabalho (corte do pau-brasil e carregamento até as caravelas).


Nesse período, as terras brasileiras serviram também de local para a coroa portuguesa enviar os degredados. Esses eram pessoas que cometiam crimes em Portugal e recebiam como punição o degredo no Brasil.

 

Desembarque dos portugueses no Brasil em 1500

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em 1500 (pintura de Oscar Pereira da Silva): início do período pré-colonial brasileiro.

 

 

As expedições guarda-costas e as feitorias


Nestes trinta anos, o Brasil foi atacado pelos holandeses, ingleses e franceses, que tinham ficado de fora do Tratado de Tordesilhas (acordo assinado em 1494, entre Portugal e Espanha, que dividiu as terras recém-descobertas). Os corsários ou piratas também saqueavam e contrabandeavam o pau-brasil, provocando pavor no rei de Portugal. O medo da coroa portuguesa era perder o território brasileiro para outro país. Para tentar evitar estes ataques, Portugal organizou e enviou ao Brasil as Expedições Guarda-Costas, porém elas obtiveram poucos resultados.


Os portugueses continuaram a exploração da madeira, construindo as feitorias, no litoral, que nada mais eram do que armazéns e postos de trocas com os indígenas.

 

A primeira expedição colonizadora


No ano de 1530, o rei de Portugal organizou a primeira expedição com o objetivo de colonizar o território recém-descoberto. Esta foi comandada por Martin Afonso de Souza e tinha como objetivos principais: povoar o território brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo da cana-de-açúcar no Brasil.

 

Retrato de Martim Afonso de Sousa

Martim Afonso de Sousa: organizou a primeira expedição colonizadora ao Brasil.




2. A fase do Açúcar (séculos XVI e XVII)


O açúcar era um produto de muita aceitação na Europa e alcançava um grande valor. Após as experiências positivas de cultivo no Nordeste, já que a cana-de-açúcar se adaptou bem ao clima e ao solo nordestino, começou o plantio em larga escala. Esta seria uma forma de Portugal lucrar com o comércio do açúcar, além de começar o povoamento do Brasil. A mão obra obra escrava, de origem africana, foi utilizada nesta fase.


Escravos movendo uma moenda de cana-de-açúcar

O trabalho escravo num engenho de açúcar

 

Administração Colonial: capitanias hereditárias


Para melhor organizar a colônia, o rei resolveu dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. O território foi dividido em faixas de terras, que foram doadas aos donatários. Estes podiam explorar os recursos da terra, porém ficavam encarregados de povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar. No geral, o sistema de Capitanias Hereditárias fracassou devido a grande distância da Metrópole, da falta de recursos e dos ataques de indígenas e piratas. As capitanias de São Vicente e Pernambuco foram as únicas que apresentaram resultados satisfatórios, graças aos investimentos do rei e de empresários.

 

O Governo-Geral


Após a tentativa fracassada de estabelecer as Capitanias Hereditárias, a coroa portuguesa implantou no Brasil o Governo-Geral. Era uma forma de centralizar e ter mais controle da colônia. O primeiro governador-geral foi Tomé de Souza, que recebeu do rei a missão de combater os indígenas rebeldes, aumentar a produção agrícola no Brasil, defender o território e procurar jazidas de ouro e prata.

 

As Câmaras Municipais


Também existiram as Câmaras Municipais, que eram órgãos políticos compostos pelos chamados "homens-bons". Estes representavam os ricos proprietários, que definiam os rumos políticos das vilas e cidades. O povo não podia participar da vida pública nesta fase.


A capital do Brasil neste período foi Salvador, pois a região Nordeste era a mais desenvolvida e rica do país.


A economia colonial


A base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro e proprietário da unidade de produção do açúcar. Utilizava a mão de obra africana escrava e tinha como objetivo principal a venda do açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar, se destacou também a produção de tabaco e algodão.


As plantações ocorriam no sistema de plantation, ou seja, eram grandes fazendas produtoras de um único produto, utilizando mão de obra escrava e visando o comércio exterior.


O Pacto Colonial, imposto por Portugal, estabelecia que o Brasil só podia fazer comércio com a metrópole.


A sociedade Colonial brasileira


A sociedade no período do açúcar era marcada pela grande diferenciação social. No topo da sociedade, com poderes políticos e econômicos, estavam os senhores de engenho. Abaixo, aparecia uma camada média formada por trabalhadores livres e funcionários públicos. E na base da sociedade estavam os escravos de origem africana.


Era uma sociedade patriarcal, uma vez que o senhor de engenho exercia um grande poder social. Neste cenário, as mulheres tinham poucos poderes e nenhuma participação política, pois deviam apenas cuidar do lar e dos filhos.

 

A Casa-Grande e a Senzala


A casa-grande era a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, alguns agregados. O conforto da casa-grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das senzalas (habitações dos escravos).

 

Casa-grande do período colonial brasileiro

Casa-grande da época do Brasil Colônia: residência do senhor de engenho e sua família.



Invasão holandesa no Brasil


Entre os anos de 1630 e 1654, o Nordeste brasileiro foi alvo de ataques e fixação de holandeses. Interessados no comércio do açúcar, os holandeses implantaram um governo em nosso território. Sob o comando de Maurício de Nassau, permaneceram lá até serem expulsos em 1654. Nassau desenvolveu diversos trabalhos em Recife, modernizando a cidade.

 

Pintura mostrando algumas casas e pessoas na rua

Vila colonial brasileira na época do Brasil Holandês



Aumento do território brasileiro no período colonial

 

Portugal não respeitou a linha imaginária traçada pelo Tratado de Tordesilhas (1494), que dividiu as terras da América entre espanhóis e portugueses. No século XVII, os bandeirantes paulistas começaram a penetrar no interior do território brasileiro em busca de índios (num primeiro momento) e pedras e metais preciosos (principalmente o ouro).

 

Os bandeirantes e a expansão territorial

 

Vale dizer que no período da União Ibérica (1580-1640), quando a Espanha não se importou com a divisão territorial entre ela e Portugal, foi o período que teve início esse processo de interiorização do Brasil, promovido pela ação dos bandeirantes.

 

Conforme iam circulando pelo interior, os bandeirantes criavam condições favoráveis para o surgimento de povoados, que se transformavam, com o tempo, em vilas e cidades.

 

Um dos bandeirantes que mais ajudou na ampliação do território brasileiro, em função do caminho percorrido, foi Antônio Raposo Tavares. Ele partiu de São Paulo e fez a seguinte rota: Paraná, Mato Grosso do Sul, fronteira do Brasil com o Paraguai e Bolívia e, logo em seguida, penetrou na Amazônia (margeou os rios Madeira e Amazonas até atingir a foz do rio no Oceano Atlântico).

 

A ação dos jesuítas

 

Outro fator que ajudou na expansão do território brasileiro foi a atuação das missões religiosas, também conhecidas como reduções jesuíticas. Para catequizar os indígenas, os padres jesuítas fundaram aldeamentos, principalmente na região amazônica e no sul do país. Muitas reduções se transformaram em cidades, ajudando assim na expansão e consolidação do território brasileiro.

 

Missão Jesuíta no Brasil

Missões jesuíticas no interior do Brasil também colaboraram para a ampliação do território brasileiro. (imagem: pintura de Rugendas).

 

Bandeirante Domingos Jorge Velho

O bandeirante Domingos Jorge Velho

 





3. O Ciclo do Ouro: século XVIII 


Após a descoberta das primeiras minas de ouro, o rei de Portugal tratou de organizar sua extração. Interessado nesta nova fonte de lucro, já que o comércio de açúcar passava por uma fase de declínio, ele começou a cobrar o quinto. O quinto nada mais era do que um imposto cobrado pela coroa portuguesa e correspondia a 20% de todo ouro encontrado na colônia. Este imposto era cobrado nas Casas de Fundição.


A descoberta de ouro e o início da exploração das minas nas regiões auríferas (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás) provocaram uma verdadeira "corrida do ouro" para estas regiões. Procurando trabalho na região, desempregados de várias regiões do país partiram em busca do sonho de ficar rico da noite para o dia.


O trabalho dos tropeiros foi de fundamental importância neste período, pois eram eles os responsáveis pelo abastecimento de animais de carga, alimentos (carne seca, principalmente) e outros mantimentos que não eram produzidos nas regiões mineradoras.


Desenvolvimento urbano nas cidades mineiras 


Cidades começaram a surgir e o desenvolvimento urbano e cultural aumentou muito nestas regiões. Foi neste contexto que apareceu um dos mais importantes artistas plásticos do Brasil: Aleijadinho.

Vários empregos surgiram nestas regiões, diversificando o mercado de trabalho na região aurífera. Igrejas foram erguidas em cidades como Vila Rica (atual Ouro Preto), Diamantina e Mariana.

Para acompanhar o desenvolvimento da região Sudeste, a capital do país foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro.


Igreja de Ouro Preto

Igreja colonial de Ouro Preto



Revoltas Coloniais e Conflitos


Em função da exploração exagerada da metrópole ocorreram várias revoltas e conflitos neste período:


- Guerra dos Emboabas: os bandeirantes queriam exclusividade na exploração do ouro nas minas que encontraram. Por isso, entraram em choque com os paulistas que estavam explorando o ouro das minas.


- Revolta de Filipe dos Santos: ocorrida em Vila Rica, representou a insatisfação dos donos de minas de ouro com a cobrança do quinto e das Casas de Fundição. O líder Filipe dos Santos foi preso e condenado à morte pela coroa portuguesa.


- Guerra dos Mascates: ocorrida entre 1710 e 1711 na capitania de Pernambuco, foi uma rebelião nativista pela disputa de poder político entre as cidades de Olinda e Recife. O conflito ocorreu, principalmente, entre a aristocracia açucareira de Olinda e os mascates (comerciantes portugueses) de Recife.

 

- Inconfidência Mineira (1789): liderada por Tiradentes, os inconfidentes mineiros queriam a libertação do Brasil de Portugal. O movimento foi descoberto pelo rei de Portugal e os líderes condenados.

 

Jornada dos Mártires. Mostra a passagem dos inconfidentes presos.

Jornada dos Mártires (1928). A passagem dos inconfidentes presos. Obra de Antônio Parreiras

 

 

Mulheres na sociedade colonial brasileira

 

 

Mulheres no Brasil Colonial: vida restrita ao ambiente doméstico
Mulheres no Brasil Colonial: vida restrita ao ambiente doméstico

 

 

O papel das mulheres na sociedade colonial brasileira


 

Mulheres de família mais ricas (exemplo: esposas e filhas de senhores de engenho)

 

Como a sociedade colonial brasileira era patriarcal, a maioria das mulheres tinham suas funções restritas ao ambiente doméstico e familiar. Ou seja, viviam para ser esposas e mães.

 

Elas não tinham participação na vida política (não votavam e nem podiam ser eleitas) ou em cargos públicos.

 

As mulheres praticamente não decidiam nada sobre suas próprias vidas. Na maioria das vezes, eram os pais que escolhiam com quem iriam se casar. Era uma estratégia da sociedade patriarcal para aumentar as relações políticas entre poderosos (elite agrária) e manter patrimônio.

 

Geralmente, essas mulheres só saiam de casa para ir à missa ou em algumas atividades sociais. Porém, sempre deviam estar acompanhadas dos maridos ou dos pais.

 

Homem entregando uma carta para uma mulher na época colonial

Homem entregando uma carta de amor para uma mulher na época colonial brasileira: casamento era o caminho natural para quase todas as mulheres.



As mulheres de famílias mais pobres (trabalhadoras livres)

 

Também não tinham participação política e tinham que aceitar todas as decisões dos maridos ou dos pais (homens), quando ainda eram solteiras.

 

A única diferença, em relação às mulheres de famílias ricas, é que tinham, em muitos casos, que trabalharem externamente para ajudar no sustento das famílias. Exerciam atividades relacionadas ao pequeno comércio ou prestação de algum tipo de serviço (costura, limpeza, passagem de roupas, etc.).

 

Mulheres escravas

 

Essas possuíam uma vida muito ruim. Além de não terem nenhum direito social, trabalhavam muito na agricultura e na fabricação do açúcar. Algumas desempenhavam funções na casa-grande como cozinheiras, empregadas domésticas ou babás. Nesse último caso, podemos dizer que a vida delas era menos pior do que a da maioria das escravas.

 

Pintura mostrando escravas trabalhando na rua

Mulheres negras trabalhando na zona urbana (provavelmente escravas de ganho).

 

 

Veja também:

 

 

 

 



Atualizado em 18/04/2023

Autor: Professor Jefferson Evandro Machado Ramos.
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).