Revolução Inglesa do século XVII
A Revolução Inglesa foi um processo decisivo do século XVII que transformou a Inglaterra em uma monarquia constitucional e estabeleceu as bases do liberalismo político moderno.

O que foi A Revolução Inglesa?
A Revolução Inglesa foi um conjunto de transformações políticas, sociais e religiosas ocorridas na Inglaterra ao longo do século XVII, marcadas por intensos conflitos entre o poder monárquico e o Parlamento. Trata-se de um processo histórico complexo, que envolveu a Guerra Civil, a deposição e execução de um rei, a instauração de uma república, a restauração da monarquia e, finalmente, a consolidação de uma monarquia constitucional com a Revolução Gloriosa. Embora composta por diferentes momentos, a Revolução Inglesa representou um divisor de águas no Ocidente, ao estabelecer princípios fundamentais do liberalismo político, como a limitação do poder do soberano, o fortalecimento do Parlamento e a defesa das liberdades civis.
Contexto Histórico
No início do século XVII, a Inglaterra era uma monarquia governada pela dinastia Stuart, que sucedera a dinastia Tudor após a morte da rainha Isabel I. Os reis Jaime I e Carlos I tentaram implantar um governo absolutista, inspirado no modelo francês, com forte centralização do poder e a defesa do direito divino dos reis. Contudo, essa tentativa esbarrou na tradição parlamentar inglesa e no crescente poder econômico e político da burguesia, especialmente dos comerciantes e proprietários rurais.
A sociedade inglesa estava em transformação, impulsionada pelo desenvolvimento do capitalismo comercial, pela ascensão de novas classes sociais e pelas disputas religiosas entre anglicanos, puritanos e católicos. O Parlamento, dominado pela burguesia puritana, exigia maior participação nas decisões políticas e contestava o autoritarismo do rei, que governava muitas vezes sem convocar o Parlamento e impunha tributos arbitrários à população.
A crescente tensão entre o poder real e o Parlamento, somada às disputas religiosas e aos conflitos sociais, desencadeou uma série de confrontos que culminaram na Revolução Inglesa. Este processo viria a redefinir o papel do Estado, o sistema de governo e os direitos políticos na Inglaterra, influenciando profundamente o pensamento político moderno.
Principais causas:
• Conflitos entre rei e Parlamento: a tentativa dos reis da dinastia Stuart de governar sem a participação do Parlamento, impondo tributos e medidas autoritárias, gerou forte oposição entre os parlamentares, especialmente aqueles ligados à burguesia.
• Disputas religiosas: a imposição do anglicanismo como religião oficial, somada à perseguição de grupos puritanos e católicos, aprofundou o descontentamento religioso. Os puritanos, majoritários no Parlamento, defendiam uma igreja mais austera e distante das tradições católicas.
• Crise econômica e tributação: a Inglaterra enfrentava dificuldades econômicas, agravadas pelas guerras e pelos gastos da corte real. Para financiar seus projetos, os monarcas recorreram à cobrança de impostos sem autorização do Parlamento, o que gerou ampla resistência.
• Ascensão da burguesia: o fortalecimento da burguesia mercantil e rural, associada a setores puritanos, impulsionou a luta por maior representação política e por um Estado que garantisse liberdades econômicas e proteção à propriedade privada.
Fases da Revolução Inglesa:
1. Revolução Puritana e Guerra Civil (1642)
A primeira fase da Revolução Inglesa foi marcada pelo confronto direto entre o rei Carlos I e o Parlamento. Diante da recusa do Parlamento em aprovar novos tributos e da crescente perseguição aos puritanos, Carlos I tentou prender os líderes parlamentares, provocando o início da Guerra Civil. O conflito dividiu o país entre os realistas (cavaleiros), apoiadores do rei, e os parlamentares (cabeças redondas), liderados por Oliver Cromwell. Após anos de intensos combates, as tropas parlamentares venceram, e o rei foi julgado e executado em 1649, fato inédito na história da Europa moderna.
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A Batalha de Naseby, ocorrida em 1645, foi um confronto decisivo no contexto da Revolução Inglesa, durante a Guerra Civil entre as forças do rei Carlos I e o exército parlamentar liderado por Oliver Cromwell. A vitória dos parlamentares nessa batalha enfraqueceu militarmente o poder real, permitindo o avanço das forças puritanas e contribuindo diretamente para a captura do rei e a posterior proclamação da república em 1649. |
2. República de Oliver Cromwell (1649 a 1658)
Com a execução do rei, foi proclamada a república, chamada de Commonwealth, sob a liderança de Oliver Cromwell. Inicialmente apoiado pelo Parlamento, Cromwell assumiu gradualmente poderes ditatoriais, dissolvendo o Parlamento e governando como "Lorde Protetor". Sua administração foi marcada pelo autoritarismo, pela repressão a opositores e pela imposição de uma rígida moral puritana. Contudo, do ponto de vista econômico e militar, a Inglaterra conheceu um período de expansão, com o fortalecimento da marinha e o crescimento do comércio internacional. Com sua morte, em 1658, seu filho Richard Cromwell não conseguiu manter o governo, o que abriu caminho para o retorno da monarquia.
3. Restauração da dinastia dos Stuart (1660)
Em 1660, com o apoio do Parlamento e de setores da sociedade cansados do regime autoritário de Cromwell, a monarquia foi restaurada com a coroação de Carlos II, filho de Carlos I. Apesar da restauração, o poder real voltou com limitações, e o Parlamento passou a exercer maior influência nas decisões políticas. A convivência entre rei e Parlamento, contudo, permaneceu instável, principalmente durante o reinado de Jaime II, irmão de Carlos II, que tentou restaurar o absolutismo e favorecer os católicos, gerando nova crise política.
4. Revolução Gloriosa (1688)
A última fase da Revolução Inglesa foi a deposição de Jaime II, promovida pelo Parlamento, que convidou Guilherme de Orange, príncipe protestante da Holanda, a assumir o trono inglês ao lado de sua esposa Maria II, filha de Jaime II. O episódio ficou conhecido como Revolução Gloriosa por ter ocorrido sem derramamento de sangue. Com a ascensão de Guilherme e Maria ao trono, foi assinada a Declaração de Direitos (Bill of Rights) em 1689, que limitava os poderes do monarca, fortalecia o Parlamento e assegurava direitos civis e políticos aos cidadãos. A Revolução Gloriosa consolidou o regime de monarquia constitucional na Inglaterra e marcou o fim definitivo das pretensões absolutistas.
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Coroação de Guilherme III e Maria II (1689) |
Principais consequências:
• Consolidação da monarquia constitucional: o poder do rei passou a ser limitado por leis e pela atuação do Parlamento, que ganhou protagonismo no governo. O modelo de monarquia constitucional inglês serviu de referência para outros países, especialmente no século XVIII.
• Fortalecimento das liberdades civis e políticas: a Declaração de Direitos de 1689 garantiu ao Parlamento o controle sobre os impostos, a liberdade de expressão entre os membros parlamentares e a necessidade de consentimento do Parlamento para ações do Executivo, estabelecendo os fundamentos do constitucionalismo moderno.
• Estímulo ao pensamento liberal: filósofos como John Locke, contemporâneo dos eventos, defenderam o direito à propriedade, a separação entre os poderes e o contrato social como base do governo legítimo. Essas ideias influenciaram profundamente os movimentos iluministas e as revoluções do século XVIII.
• Expansão do capitalismo e da burguesia: a nova ordem política favoreceu o desenvolvimento econômico inglês, com o incentivo ao comércio, à navegação e à acumulação de capitais. A burguesia consolidou sua posição como força dominante na política e na economia.
• Influência internacional: os ideais da Revolução Inglesa repercutiram em outras partes da Europa e das Américas, sendo considerados antecedentes importantes para a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789).
Legado da Revolução Inglesa
O legado da Revolução Inglesa do século XVII é profundamente significativo, tanto para a história britânica quanto para a formação do pensamento político ocidental. Ao consolidar a monarquia constitucional, estabelecer a supremacia do Parlamento sobre o poder real e garantir direitos civis por meio da Declaração de Direitos de 1689, a Revolução instituiu os princípios fundamentais do liberalismo político. Esses avanços influenciaram diretamente o surgimento das democracias representativas modernas e serviram de base para movimentos posteriores, como a Revolução Americana e a Revolução Francesa. A revolução garantiu também o fortalecimento da burguesia e das liberdades econômicas, impulsionou o desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da Inglaterra como potência comercial. Desta forma, podemos afirmar que a Revolução Inglesa foi um marco essencial na transição do absolutismo para a modernidade política e econômica.
IDEIAS PRINCIPAIS DO TEXTO:
- A Revolução Inglesa foi um processo político do século XVII que limitou o poder do rei e fortaleceu o Parlamento.
- O conflito resultou de tensões entre absolutismo monárquico e tradições parlamentares, associadas ao crescimento da burguesia.
- Disputas religiosas entre anglicanos, puritanos e católicos também contribuíram para a instabilidade.
- A oposição à tributação sem autorização parlamentar foi uma das principais causas da revolta.
- A Guerra Civil começou com o confronto entre Carlos I e o Parlamento, terminando com a vitória puritana e a execução do rei.
- A república de Oliver Cromwell foi marcada por autoritarismo, moral puritana e expansão econômica.
- A restauração da monarquia com Carlos II manteve limitações ao poder real e aumentou o papel do Parlamento.
- A Revolução Gloriosa de 1688 depôs Jaime II e instaurou uma monarquia constitucional com Guilherme e Maria.
- A Declaração de Direitos de 1689 assegurou liberdades civis e fortaleceu o controle parlamentar sobre o Executivo.
- O novo regime estimulou o pensamento liberal e influenciou revoluções futuras como a americana e a francesa.
- A ascensão da burguesia e do capitalismo foi favorecida pela nova ordem política e econômica.
- A Revolução Inglesa representou a transição definitiva do absolutismo para a modernidade política no Ocidente.
Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)
Publicado em 24/03/2025
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Bibliografia e vídeos indicados:
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Revolução Inglesa. São Paulo: Brasiliense, 1990.
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