Absolutismo Monárquico
O absolutismo monárquico foi um sistema de governo europeu em que os reis tinham muito poder e mandavam em todas as áreas do seu reino, uma época sem nenhuma democracia e muito autoritarismo.

Definição histórica
O absolutismo monárquico foi um sistema político e administrativo que se consolidou em grande parte da Europa durante o período conhecido como Antigo Regime, aproximadamente entre os séculos XVI e XVIII. Caracterizou-se pela centralização do poder nas mãos do monarca, que governava de maneira autoritária, concentrando as funções legislativa, executiva e judiciária sob sua autoridade direta, sem a necessidade de submeter suas decisões a qualquer instância representativa, como parlamentos ou assembleias.
Origem do sistema absolutista monárquico
No final da Idade Média (séculos XIV e XV), ocorreu uma forte centralização política nas mãos dos reis. A burguesia comercial ajudou muito neste processo, pois, interessava a ela, um governo forte e capaz de organizar a sociedade. Portanto, a burguesia forneceu apoio político e financeiro aos reis absolutistas, que em troca, criaram um sistema administrativo eficiente, unificando moedas e impostos. Também ofereceram aos burgueses, significativas melhorias na segurança dentro de seus reinos.
Os reinos onde o absolutismo mais expressou suas características foram: França, Inglaterra, Espanha, Dinamarca, Prússia, Portugal e Suécia. Vale dizer que em cada um destes reinos o absolutismo apresentou características particulares.
Contexto Histórico
- O absolutismo existiu, principalmente, no continente europeu e durou, na maioria dos países, entre os séculos XV e XVIII. Foi o principal regime político da Idade Moderna.
- Ele surgiu no contexto da crise do feudalismo.
- A desestruturação política do feudalismo criou a necessidade da existência de um governo centralizado e forte. Nesse contexto político, podemos explicar o aparecimento do absolutismo e das monarquias nacionais (Antigo Regime). Esse poder é expresso na figura do rei (monarca).
- Nesse período, ocorreu o surgimento e fortalecimento da burguesia como classe social e com importante influência política.
- No contexto do absolutismo, ocorreu também o Renascimento Cultural e Científico.
- No campo religioso, houve o enfraquecimento político da Igreja Católica Romana. Esse processo esteve relacionado com o desenvolvimento científico, maior acesso aos livros e mudança de mentalidade do homem europeu.
- Ainda na área da fé, ocorreu a Reforma Protestante (Luterana, Calvinista e Anglicana), que além de diminuir ainda mais o poder da Igreja Católica, colaborou para o desenvolvimento da ética protestante, muito ligada aos anseios da burguesia.
- Com relação à economia, ocorreu a substituição do sistema de produção feudal pelo capitalismo. O comércio e o lucro passaram a ter grande importância no desenvolvimento social.
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A burguesia se aliou aos monarcas e favoreceu o surgimento e desenvolvimento do absolutismo no início da Idade Moderna. |
Principais características:
• Nesta época, o rei concentrava praticamente todos os poderes. Criava leis sem autorização ou aprovação política da sociedade. Criava impostos, taxas e obrigações de acordo com seus interesses econômicos. Agia em assuntos religiosos, chegando até mesmo, a controlar o clero em algumas regiões.
• Todos os luxos e gastos da corte eram mantidos pelos impostos e taxas pagos, principalmente, pela população mais pobre. Esta, tinha pouco poder político para exigir ou negociar. Os reis usavam a força e a violência de seus exércitos para reprimir, prender ou até mesmo matar qualquer pessoa que fosse contrária aos interesses ou leis definidas pelos monarcas.
• Poder jurídico controlado pelos reis absolutistas. Eles faziam as leis, quase sempre beneficiando a nobreza.
• Criação de exércitos fortes e organizados para defender o reino.
• Apoio da burguesia à nobreza. Em troca, os burgueses ganhavam segurança, estabilidade jurídica para os seus negócios e unificação de pesos e medidas.
• Influência do monarca em questões da Igreja. Havia também muitos acordos políticos entre nobreza e clero, para que houvesse a prevalência de seus interesses.
Exemplos de alguns reis deste período:
- Henrique VIII - Dinastia Tudor - governou a Inglaterra no século XVII
- Elizabeth I - Dinastia Stuart - rainha da Inglaterra no século XVII
- Luis XIV - Dinastia Bourbon - conhecido como Rei Sol - governou a França entre 1643 e 1715.
- Fernando e Isabel - governaram a Espanha no século XVI.
- Carlos XII - rei da Suécia entre 1697 e 1718.
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Palácio de Versalhes: símbolo da riqueza e do poder da monarquia absolutista na França do Antigo Regime. |
Principais teóricos do Absolutismo
Muitos filósofos dessa época desenvolveram teorias e chegaram até mesmo a escrever livros defendendo o poder dos monarcas europeus. Abaixo alguns exemplos:
Jacques Bossuet: para este filósofo e teólogo francês o rei era o representante de Deus na Terra. Portanto, todos deveriam obedecê-lo sem contestar suas atitudes.
Nicolau Maquiavel: Escreveu um livro, "O Príncipe", onde defendia o poder dos reis. De acordo com as ideias deste livro, o governante poderia fazer qualquer coisa em seu território para conseguir a ordem. De acordo com o pensador, o rei poderia usar até mesmo a violência para atingir seus objetivos. É deste teórico a famosa frase: "Os fins justificam os meios."
Thomas Hobbes: Este pensador inglês, autor do livro "O Leviatã", defendia a ideia de que o rei havia salvado a civilização da barbárie e, portanto, através de um contrato social, a população deveria ceder ao Estado todos os poderes.
Jean Bodin: professor de Direito, teórico político, jurista e filósofo francês. Uma de suas principais obras foi “Os Seis Livros da República”. Neste livro, Bodin defende a ideia de que o poder do governante é soberano e absoluto, pois ele foi escolhido por Deus. Ele compara também o governante a um chefe de família, que deve ter poderes totais para manter a ordem.
Hugo Grotius: jurista, escritor, político e filósofo holandês. Defendeu a ideia de que o Estado deve possuir liberdade e poderes ilimitados para manter a ordem na nação, sem estar submetido ao julgamento de qualquer outro poder.
A prática econômica do absolutismo: o mercantilismo
Podemos definir o Mercantilismo como sendo a política econômica adotada na Europa durante o Antigo Regime. Como já dissemos, o governo absolutista interferia muito na economia dos países. O objetivo principal destes governos era alcançar o máximo possível de desenvolvimento econômico, através do acúmulo de riquezas. Quanto maior a quantidade de riquezas dentro de um reino, maior seria o seu prestígio, poder e respeito internacional. Podemos citar como principais características do sistema econômico mercantilista: Metalismo, Industrialização, Protecionismo Alfandegário, Pacto Colonial e Balança Comercial Favorável.
Legado do absolutismo na política e cultura
O impacto do absolutismo na política moderna é profundo, estabelecendo as bases para a centralização do poder estatal e a evolução dos sistemas autocráticos e democráticos modernos. O absolutismo, exemplificado nos reinados de monarcas como Luís XIV da França, estabeleceu a noção de poder soberano investido em um único governante, centralizando o controle e a burocracia. Essa concentração de poder sob uma autoridade ajudou a moldar o conceito de estado-nação, influente na estruturação política de muitos países modernos. No entanto, o modelo absolutista também catalisou o desenvolvimento de filosofias políticas que advogam por controles e equilíbrios, inspirando pensadores como Montesquieu e Rousseau. Suas ideias, desafiando diretamente o absolutismo, contribuíram significativamente para o nascimento dos ideais democráticos e das monarquias constitucionais, formando um aspecto fundamental de muitos sistemas políticos modernos.
Culturalmente, a era do absolutismo teve uma influência duradoura, especialmente nas artes, arquitetura e normas culturais. Governantes absolutistas, como Luís XIV, foram patronos das artes, levando a um florescimento da expressão artística que estabeleceu as bases para vários movimentos e estilos artísticos. A grandiosidade e opulência do período são evidentes em maravilhas arquitetônicas como o Palácio de Versalhes, simbolizando o poder absoluto e o direito divino dos reis.
Esse período também incutiu um senso de identidade e orgulho nacionais, frequentemente atrelados à majestade da monarquia. O legado cultural do absolutismo se estende até os tempos modernos, influenciando as compreensões contemporâneas de poder, liderança e a relação entre o estado e a identidade individual.
Curiosidade histórica:
O absolutismo francês teve em seus primórdios a Dinastia Capetíngia. A centralização política, base deste regime, teve início com o monarca capetíngio Filipe Augusto (Filipe II), que reinou a França de 1180 a 1223.
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Luís XIV da França, exemplo de rei absolutista europeu do século XVI. |
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Carlos XII da Suécia: outro exemplo de monarca absolutista europeu. |
IDEIAS PRINCIPAIS DO TEXTO:
- O absolutismo foi um sistema político centralizado vigente na Europa entre os séculos XVI e XVIII.
- Surgiu da crise do feudalismo e da centralização de poder nas mãos dos reis no final da Idade Média.
- A burguesia apoiou os monarcas absolutistas em troca de estabilidade, segurança e unificação econômica.
- O absolutismo variou em características conforme o país, com destaque para França, Inglaterra, Espanha, Dinamarca, Prússia, Portugal e Suécia.
- A desestruturação política do feudalismo favoreceu a ascensão das monarquias nacionais centralizadas.
- O crescimento da burguesia e o Renascimento contribuíram para o fortalecimento do absolutismo.
- A Reforma Protestante reduziu o poder da Igreja Católica e alinhou-se aos interesses burgueses.
- A transição do feudalismo para o capitalismo marcou transformações econômicas significativas.
- O rei detinha poderes absolutos, legislando, cobrando impostos e controlando a religião.
- Os gastos da corte eram sustentados principalmente pelos impostos pagos pelas classes mais pobres.
- O sistema jurídico beneficiava a nobreza e era controlado diretamente pelos monarcas.
- Os reis organizaram exércitos fortes para manter a ordem e defender seus reinos.
- A burguesia apoiava o absolutismo por garantir ordem, segurança e padronização econômica.
- A Igreja e a nobreza frequentemente firmavam alianças políticas com os reis absolutistas.
- Exemplos de monarcas absolutistas incluem Luís XIV, Henrique VIII, Elizabeth I, Fernando e Isabel e Carlos XII.
- Jacques Bossuet defendia a autoridade divina dos reis e a obediência total ao monarca.
- Nicolau Maquiavel legitimava o uso da força e da astúcia para manter a ordem no poder.
- Thomas Hobbes via o poder absoluto como necessário para evitar o caos social.
- Jean Bodin sustentava que o rei deveria ter poder soberano, como o chefe de uma família.
- Hugo Grotius defendia a liberdade e o poder ilimitado do Estado para garantir a ordem.
- O mercantilismo foi a política econômica do absolutismo, focando no acúmulo de riquezas.
- Características do mercantilismo incluíam metalismo, protecionismo, industrialização e pacto colonial.
- O absolutismo contribuiu para a formação dos estados-nação e da centralização política moderna.
- Também inspirou teorias políticas que levaram à criação de sistemas democráticos e constitucionais.
- Na cultura, o absolutismo influenciou as artes e a arquitetura, simbolizadas por obras como o Palácio de Versalhes.
- O período absolutista deixou um legado duradouro na identidade nacional e na visão moderna de liderança.
VOCABULÁRIO DO TEXTO:
- Antigo Regime: período histórico caracterizado por monarquias absolutas, sociedade estamental e economia mercantilista na Europa.
- Centralização: concentração do poder político e administrativo nas mãos de uma única autoridade, geralmente o rei.
- Burocracia: conjunto de órgãos e funcionários que organizam e administram o Estado.
- Clero: grupo social ligado à Igreja, composto por padres, bispos e demais membros da hierarquia religiosa.
- Contrato social: ideia filosófica de que a sociedade é formada por um acordo entre governantes e governados para garantir a ordem.
- Ética protestante: conjunto de valores religiosos ligados ao protestantismo que valorizam o trabalho, a disciplina e o lucro.
- Estado-nação: forma de organização política com governo central, território definido e identidade nacional.
- Feudalismo: sistema político, social e econômico da Idade Média baseado na posse da terra, na descentralização do poder e nas relações de dependência pessoal.
- Hereditariedade: transmissão de cargos, títulos ou bens de uma geração para outra dentro de uma família.
- Legitimidade: condição de um governo ou autoridade ser aceito como válido pela sociedade.
- Monarca: governante de um reino, geralmente com poderes hereditários e concentrados.
- Monarquia constitucional: sistema político em que o rei compartilha o poder com instituições políticas, obedecendo a uma constituição.
- Nobreza: classe social privilegiada, geralmente ligada à posse de terras e aos cargos na administração e no exército.
- Oposição: grupo ou conjunto de pessoas que discordam ou resistem ao governo vigente.
- Reforma Protestante: movimento religioso iniciado no século XVI que levou à divisão da Igreja e ao surgimento de novas doutrinas cristãs.
- Renascimento: movimento cultural dos séculos XV e XVI que valorizou as artes, a ciência e o pensamento racional, inspirado na Antiguidade Clássica.
- Soberania: poder supremo de um Estado ou governante sobre seu território e sua população.
Por Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).
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Bibliografia e vídeos indicados:
Fontes de pesquisa consultadas para a elaboração do texto:
CAMPOS, Raymundo. Estudos de História Moderna e Contemporânea. São Paulo: Editora Atual, 1988.
CÁCERES, Florival; PEDRO, Antônio. História Geral. São Paulo: Moderna, 1988.
Vídeo indicado no YouTube:
Absolutismo l Tempo de Estudar | História | 7º ano (Canal MultiRio)