História do Povo Hebreu
O povo hebreu na Antiguidade destacou-se por sua fé monoteísta, sua tradição escrita e sua história marcada por migrações, alianças e resistências no Oriente Médio.

Quem foram, origem e período
O povo hebreu foi um dos povos da Antiguidade que se destacou no Oriente Médio, ocupando a região do Crescente Fértil, entre o Egito e a Mesopotâmia. Sua origem remonta a grupos seminômades de origem semita que, segundo a tradição bíblica, teriam saído da Mesopotâmia (Ur, na Caldeia) com o patriarca Abraão por volta do segundo milênio antes de Cristo. A história do povo hebreu é marcada por uma trajetória singular, composta por migrações, escravidão, conquistas e períodos de exílio. Sua cronologia histórica tradicional divide-se em diversas fases: Patriarcal, Êxodo e Conquista, Juízes, Monarquia Unificada, Reinos Divididos (Israel e Judá), Cativeiro Babilônico e o Retorno à Palestina.
O termo “hebreu” é utilizado nas fases iniciais do povo, enquanto “israelitas” passou a ser adotado após a formação do reino de Israel. Já “judeus” se popularizou após o exílio na Babilônia, quando Judá tornou-se o centro do povo remanescente.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO POVO HEBREU:
1. Sociedade
A sociedade hebraica antiga era patriarcal e segmentada por laços familiares e tribais. O núcleo social era formado pela família extensa, chefiada por um patriarca que exercia grande autoridade sobre todos os membros. A organização tribal, baseada nos doze filhos de Jacó (também chamado Israel), resultou na divisão do povo em doze tribos. Cada tribo possuía autonomia relativa, com líderes próprios, denominados juízes, nos períodos anteriores à centralização política da monarquia.
Havia distinções entre homens e mulheres, sendo estas últimas geralmente subordinadas à autoridade masculina. Os homens ocupavam funções religiosas, militares e políticas, enquanto às mulheres era reservado o espaço doméstico e a maternidade. A sociedade hebraica também conhecia a presença de estrangeiros, servos e até mesmo de escravizados, embora as leis religiosas impusessem limites à escravidão.
2. Religião
A religião hebraica é um dos elementos mais notáveis dessa civilização, sendo considerada a base do monoteísmo ocidental. Diferentemente de outros povos do Oriente Antigo, os hebreus acreditavam em um único Deus, Javé (YHWH), criador do universo e mantenedor de uma aliança com seu povo. Essa aliança foi selada por meio de pactos com figuras como Abraão e Moisés, sendo este último considerado o grande legislador, que recebeu as Tábuas da Lei no Monte Sinai.
A fé hebraica valorizava os princípios éticos, a justiça social, a fidelidade a Deus e a obediência às leis divinas, registradas na Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia hebraica. O monoteísmo hebraico teve impacto profundo sobre as religiões posteriores, como o cristianismo e o islamismo, sendo por isso considerado um dos maiores legados dessa civilização.
3. Economia
A economia do povo hebreu foi variando conforme sua localização geográfica e o contexto histórico. Durante o período nômade e de formação tribal, predominava a economia pastoril, com criação de rebanhos, sobretudo de ovelhas e cabras. Já na fase de sedentarização, após a ocupação de Canaã, a agricultura passou a ter papel importante, com o cultivo de trigo, cevada, figos, uvas e oliveiras.
Durante a monarquia, especialmente sob os reinados de Davi e Salomão, houve crescimento econômico por meio de tributos, comércio com outros povos e obras públicas. Salomão, por exemplo, estabeleceu acordos comerciais com os fenícios, incentivou a construção de palácios e fortalezas, além do célebre Templo de Jerusalém.
4. Política
A organização política hebraica passou por diversas transformações ao longo do tempo. Inicialmente, o povo vivia sob o modelo tribal, em que cada tribo era liderada por anciãos ou juízes. Com o tempo, a necessidade de unificação diante de inimigos externos levou à instauração da monarquia, com Saul sendo o primeiro rei. Davi, seu sucessor, consolidou o reino, estabelecendo Jerusalém como capital. Seu filho Salomão promoveu grande centralização administrativa e ampliou o aparato estatal.
Após a morte de Salomão, o reino dividiu-se em duas entidades: o Reino de Israel ao norte e o Reino de Judá ao sul. Ambos enfrentaram crises políticas, invasões estrangeiras e instabilidade até serem conquistados por potências como a Assíria e a Babilônia. O exílio na Babilônia representou uma ruptura política profunda, mas também um momento de fortalecimento da identidade cultural e religiosa.
5. Artes e cultura
A arte hebraica antiga não se destacou por esculturas ou pinturas monumentais, como no caso do Egito ou da Mesopotâmia, uma vez que o monoteísmo hebraico condenava a representação de figuras humanas ou divinas. No entanto, a arquitetura foi bastante desenvolvida, com destaque para a construção do Templo de Jerusalém, centro religioso e político do povo hebreu.
A literatura foi o aspecto cultural mais marcante. A Bíblia hebraica (ou Tanakh), composta por textos legais, históricos, proféticos e poéticos, é uma das mais influentes produções literárias da Antiguidade. Salmos, Provérbios e Cânticos são exemplos de obras de grande valor literário e espiritual. Também há vestígios de música, com salmos cantados nos cultos religiosos e instrumentos como harpas, címbalos e flautas.
![]() |
Mosaico Hebraico Antigo |
Exemplos de acontecimentos históricos importantes da história do povo hebreu:
• Chamado de Abraão: considerado o início da história do povo hebreu, o chamado de Abraão para sair de Ur e seguir para a terra prometida marca o surgimento da identidade hebraica e a aliança com Deus.
• Escravidão no Egito e Êxodo: um dos episódios mais emblemáticos, segundo a tradição bíblica, é a escravidão dos hebreus no Egito e sua posterior libertação liderada por Moisés. Esse evento simboliza a libertação e a entrega da Lei divina.
• Conquista de Canaã: após o êxodo, os hebreus, sob a liderança de Josué, conquistaram a Terra Prometida. Este período foi marcado por conflitos com os povos cananeus e pela formação das tribos em território fixo.
• Unificação dos reinos e construção do Templo: a unificação das tribos sob Davi e Salomão marcou um período de esplendor. O Templo de Jerusalém tornou-se o centro da vida religiosa.
• Divisão dos reinos: após a morte de Salomão, o reino foi dividido em Israel (norte) e Judá (sul). Essa cisão gerou rivalidades políticas e religiosas.
• Cativeiro Babilônico: em 586 a.C., o Reino de Judá foi conquistado pela Babilônia, que destruiu Jerusalém e deportou parte da população. Esse período de exílio foi essencial para a reafirmação da identidade religiosa.
• Retorno do exílio e reconstrução do Templo: com a conquista da Babilônia pelos persas, os hebreus receberam permissão para retornar e reconstruir Jerusalém. Iniciou-se então o chamado Segundo Templo.
|
Os israelitas deixando o Egito: obra de David Roberts (1830) |
Legado deixado pelos hebreus
O povo hebreu deixou um legado duradouro para a humanidade, sobretudo no campo religioso, ético e cultural. O monoteísmo hebraico lançou as bases para três das maiores religiões monoteístas do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo. Os princípios éticos contidos na Torá influenciaram profundamente o pensamento ocidental, especialmente no que diz respeito à justiça, à dignidade humana e à importância da lei.
O conceito de um Deus único, transcendente e moralmente justo teve ampla repercussão, assim como a ideia de uma aliança entre divindade e humanidade. A valorização da memória histórica, da leitura e da educação também são aspectos fundamentais do legado hebreu. Ainda hoje, a história do povo hebreu serve como referência de resistência, identidade cultural e fé diante das adversidades.
Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)
Publicado em 14/04/2025
Temas relacionados
Bibliografia e vídeos indicados:
JOSEFO, Flavio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1969.
Vídeo indicado no YouTube:
QUEM ERAM OS HEBREUS: História, religião e diáspora. Resumo de História Enem. Prof Felipe Oliveira - Curso Enem Gratuito