Religião dos Hebreus na Antiguidade

A religião dos hebreus na Antiguidade foi marcada pelo monoteísmo, com a crença em um Deus único, ético e transcendente, que estabeleceu uma aliança com seu povo e revelou leis sagradas por meio de figuras como Moisés.

Os hebreus foram os primeiros a consolidar o monoteísmo como base de sua fé.
Os hebreus foram os primeiros a consolidar o monoteísmo como base de sua fé.

 

Introdução


O povo hebreu surgiu na região do Crescente Fértil, especialmente entre os rios Jordão e Eufrates, em um espaço que corresponde hoje ao território de Israel, Palestina, Jordânia e partes do Iraque. Ao longo de sua história, os hebreus vivenciaram importantes deslocamentos e contatos com diferentes civilizações, como os egípcios, assírios, babilônios e persas, que influenciaram seus modos de vida e suas crenças. A história dos hebreus na Antiguidade é marcada por uma trajetória de migrações, escravidão, formação de um reino unificado, divisões internas e exílios forçados. Nesse percurso, consolidaram uma tradição religiosa original, que se tornou um dos fundamentos da cultura ocidental: o monoteísmo hebraico.


Origem da religião dos hebreus

 

A religião dos hebreus na Antiguidade tem origem nas tradições orais e experiências espirituais de seus patriarcas, como Abraão, Isaac e Jacó, considerados os fundadores do povo hebreu. Segundo a tradição, Abraão teria recebido de Deus, chamado pelos hebreus de Javé, a promessa de uma terra para seu povo, a chamada Terra Prometida. A partir dessa aliança, os hebreus passaram a se organizar em torno de uma fé monoteísta, em contraste com as religiões politeístas predominantes nas civilizações vizinhas. Essa fé foi sendo consolidada ao longo dos séculos, especialmente com a experiência do Êxodo, sob a liderança de Moisés, e com a codificação de preceitos religiosos expressos na Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica.

 

Pintura mostrando Moises recebendo os 10 mandamentos de Deus

Moisés recebendo as tábuas da lei (1868): pintura de João Zeferino da Costa.

 

 

Principais características:

 

Monoteísmo exclusivo: os hebreus acreditavam em um único Deus, Javé, criador de todas as coisas e dotado de poder absoluto, rejeitando o culto a qualquer outra divindade.


Aliança com Deus: a relação entre Deus e o povo hebreu era concebida como uma aliança, em que Javé prometia proteção e bênçãos ao povo, desde que este obedecesse aos seus mandamentos.


Código ético-religioso: a fé hebraica estava vinculada a um conjunto de normas morais e religiosas, como os Dez Mandamentos, que orientavam a conduta individual e coletiva.


Profetismo: os profetas desempenhavam papel essencial na religião hebraica, atuando como mensageiros de Deus e denunciando injustiças sociais e desvios religiosos, além de conclamar o povo ao arrependimento.


Culto centralizado: após a construção do Templo de Jerusalém por Salomão, o culto a Javé passou a ser centralizado nesse espaço sagrado, onde eram realizados os principais rituais religiosos.


Religião da história: os hebreus interpretavam sua história como uma manifestação da vontade divina. Conquistas, derrotas e exílios eram entendidos como formas de recompensa ou punição de Deus.


Escrituras sagradas: a preservação e a transmissão da fé hebraica se deram por meio de textos sagrados que compõem a Bíblia Hebraica, também chamada de Tanakh, cuja primeira parte é a Torá.



O papel dos sacerdotes

 

Na religião hebraica da Antiguidade, os sacerdotes desempenhavam um papel central na mediação entre o povo e Deus, sendo responsáveis pela condução dos rituais religiosos, especialmente os sacrifícios realizados no Templo de Jerusalém. Pertencentes à tribo de Levi, e mais especificamente descendentes de Aarão, irmão de Moisés, os sacerdotes zelavam pela observância das leis religiosas, pela pureza ritual e pela correta execução dos cultos estabelecidos na Torá. Além disso, orientavam o povo em questões espirituais, interpretavam normas religiosas e exerciam funções de ensino, preservando a tradição e garantindo a transmissão dos preceitos divinos às gerações seguintes.

 

Pintura de um sacerdote hebreu próximo aos seguidores

Sacerdote: papel central na vida religiosa de Israel, sendo responsáveis pelos rituais no Templo, pela preservação da Lei e pela mediação entre o povo e a divindade.



Legado e influências

 

O legado da religião dos hebreus na Antiguidade é amplo e profundo, influenciando diretamente o desenvolvimento de duas das maiores religiões do mundo: o cristianismo e o islamismo. Ambas compartilham com o judaísmo a noção de um Deus único, criador e justo, bem como diversas figuras e relatos das escrituras hebraicas, como Abraão, Moisés e os profetas. O cristianismo, por exemplo, nasce no interior da tradição judaica e adota parte significativa de seus ensinamentos morais e religiosos, reinterpretando-os à luz da vida e da mensagem de Jesus de Nazaré. Já o islamismo reconhece o monoteísmo hebraico e a revelação divina, considerando profetas hebreus como figuras sagradas e incorporando elementos jurídicos e éticos semelhantes.


Vale destacar também que os princípios morais e a visão histórica da religião hebraica exerceram influência sobre a formação de valores éticos no Ocidente, como a dignidade da vida humana, a justiça, a compaixão e a responsabilidade social. A ideia de que a história humana possui um sentido e caminha para um desfecho determinado também está enraizada na tradição hebraica e foi apropriada por correntes filosóficas e religiosas posteriores. Desse modo, mesmo após milênios, a religião dos hebreus continua a desempenhar papel central na compreensão do mundo e da espiritualidade em diferentes culturas e sociedades.

 

 


 


Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Publicado em 28/03/2025