Antonio Gramsci
Antonio Gramsci foi um filósofo e cientísta político marxista da primeita metade do século XX.

Quem foi
Antonio Gramsci foi um filósofo marxista italiano e político comunista. Também atuou como jornalista, linguista, cientista político e crítico literário. É considerado um dos principais representantes do pensamento marxista do século XX. Destacou-se ao analisar questões como hegemonia política e cultural, dominação de classes sociais, revolução e subordinação política.
Biografia resumida
Nascido em Ales (Sardenha, Itália), em 22 de janeiro de 1891, Gramsci enfrentou grandes dificuldades desde cedo, incluindo problemas graves de saúde e pobreza. Ele se mudou para Turim para estudar na universidade, onde se envolveu profundamente na política socialista em meio à rápida industrialização e agitação social da Itália.
Gramsci entrou no Partido Socialista Italiano em 1913 e, posteriormente, co-fundou o Partido Comunista Italiano (PCI) em 1921. Neste período, defendeu os conselhos de trabalhadores e foi influenciado pela Revolução Russa (1917).
Suas atividades políticas e liderança dentro do PCI levaram à sua prisão pelo regime fascista de Mussolini em 1926. Durante seu encarceramento, Gramsci escreveu extensivamente, produzindo a obra "Cadernos do Cárcere," que expressavam suas ideias inovadoras sobre cultura, política e sociedade.
Foi libertado da prisão, devido à saúde debilitada, em 1934, porém ficou mantido sob vigilância policial.
Antonio Gramsci faleceu em Roma, no dia 27 de abril de 1937, aos 46 anos.
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Foto policial de Antonio Gramsci (1933) |
Principais ideias e teorias políticas e sociais:
1. Teoria da Hegemonia
"Hegemonia Cultural" é um conceito desenvolvido por Gramsci para descrever o domínio de uma sociedade culturalmente diversa pela classe dominante, que manipula a cultura para que sua visão de mundo se torne a norma aceita. Esse domínio é mantido não apenas através do controle político e econômico, mas também moldando a ideologia, valores e crenças.
Gramsci enfatizou o papel dos intelectuais na sociedade, distinguindo entre intelectuais "tradicionais" (aqueles que se veem como autônomos do grupo social dominante) e intelectuais "orgânicos" (aqueles que surgem diretamente de uma classe social específica e estão conectados a ela). A classe dominante mantém o poder promovendo sua visão de mundo através desses intelectuais, garantindo que as instituições culturais reforcem sua dominação.
2. Intelectuais e Sociedade
Gramsci identificou os intelectuais tradicionais como aqueles que perpetuam o status quo através da educação, religião e mídia. Em contraste, os intelectuais orgânicos estão inseridos na classe trabalhadora, articulando e promovendo seus interesses. Gramsci via esses intelectuais orgânicos como essenciais para a luta de classes, ajudando a construir uma nova hegemonia que desafia as estruturas de poder existentes.
3. Revolução Passiva e Transformismo
Os conceitos de revolução passiva e transformismo descrevem estratégias usadas pela classe dominante para manter o controle. Revolução passiva refere-se a mudanças graduais e reformistas que antecipam ameaças revolucionárias, enquanto o transformismo envolve cooptar os líderes das classes subalternas para diluir o potencial revolucionário. Exemplos históricos incluem o Risorgimento na Itália e, mais contemporaneamente, a cooptação neoliberal de movimentos progressistas.
4. Subordinação
A noção de Gramsci de "classes subordinadas" foca em como os grupos marginalizados podem desenvolver suas próprias narrativas e estratégias de resistência. Ele acreditava que, através da formação de uma contra-hegemonia, as classes subalternas poderiam desafiar a ideologia dominante e afirmar sua própria visão de sociedade.
5. Educação e Cultura
Gramsci destacou a importância da educação na formação de uma consciência crítica necessária para a mudança social. Ele criticou as instituições educacionais por perpetuarem a hegemonia cultural, mas também as viu como potenciais locais para fomentar o pensamento revolucionário e visões de mundo alternativas.
6. Relação entre Estrutura e Superestrutura
Gramsci redefiniu a relação marxista entre estrutura (base econômica) e superestrutura (cultura, política, ideologia). Ele argumentou que as superestruturas têm autonomia relativa e influência significativa sobre a base econômica. Essa visão mais complexa permite uma compreensão mais profunda de como o poder e a dominação operam na sociedade.
7. Política e Estratégia Revolucionária
Gramsci distinguiu entre "guerra de posição" (construção de bases culturais e ideológicas para a mudança dentro da sociedade civil) e "guerra de movimento" (confronto direto com o estado). Ele acreditava que, nas sociedades capitalistas avançadas, a guerra de posição era crucial, pois a hegemonia cultural precisava ser desafiada antes que o poder político pudesse ser tomado.
Principais obras:
- L'Ordine Nuovo (1919-1920): jornal co-fundado e editado por Gramsci.
- Literatura e Vida Nacional (1916): coletânea de ensaios literários e culturais, onde Gramsci explora a relação entre literatura, cultura e política.
- Escritos Políticos (1910-1926): compilação de artigos, ensaios e textos políticos escritos por Gramsci antes de sua prisão, abrangendo sua análise do movimento operário, o papel dos intelectuais e a crítica ao fascismo.
- Il Risorgimento (1926): artigos e ensaios sobre a história da unificação italiana.
- A Questão Meridional (1926): ensaio que analisa as disparidades econômicas e sociais entre o Norte e o Sul da Itália, e a necessidade de uma reforma agrária e desenvolvimento industrial no Sul.
- Americanismo e Fordismo (1934): parte dos "Cadernos do Cárcere".
- Os Intelectuais e a Organização da Cultura (1935): publicado postumamente em 1949.
- Cadernos do Cárcere (Quaderni del carcere) (1948-1951): publicação póstuma de suas anotações feitas na prisão entre 1929 e 1935.
- Notas sobre Maquiavel, a Política e o Estado Moderno (1949): ensaios que fazem uma análise original das ideias de Maquiavel e sua relevância para a compreensão da política moderna.
- Cartas do Cárcere (Lettere dal carcere) (1947): coletânea de cartas escritas por Gramsci durante seu encarceramento.
Exemplos de Frases:
- "O velho mundo está morrendo. O novo tarda a aparecer. E nesse claro-escuro surgem os monstros."
- "A indiferença é o peso morto da história."
- "A crise consiste precisamente no fato de que o velho morre e o novo não pode nascer: nesse interregno verificam-se os fenômenos mórbidos mais variados."
- "A verdade é sempre revolucionária."
Impacto e Legado
As ideias de Gramsci influenciaram profundamente a teoria política, os estudos culturais e a educação. Seus conceitos de hegemonia, o papel dos intelectuais e a importância da luta cultural tornaram-se centrais para o pensamento marxista contemporâneo e foram utilizados na análise de vários contextos sociopolíticos em todo o mundo. Seu legado perdura nos esforços contínuos para entender e transformar as estruturas de poder e dominação na sociedade.
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Capa de uma edição moderna de Cardenos do Cárcere de Antonio Gramsci |
Publicado em 17/05/2024
Por Jefferson Evandro M. Ramos (graduado em História pela USP)
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Bibliografia e vídeos indicados:
Fonte de referência do artigo:
- AGGIO, Alberto (Org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Ed. Unesp, 1998.