Existencialismo em Sartre: O que é?
O existencialismo de Sartre afirma que a existência precede a essência, ou seja, os seres humanos primeiro existem e depois definem sua essência através de suas escolhas e ações, sendo completamente responsáveis por suas próprias vidas.
Introdução ao Existencialismo
O Existencialismo é um movimento filosófico que explora a natureza da existência humana, da liberdade e da busca por significado em um mundo aparentemente indiferente ou sem sentido. Surgido principalmente no século XX, o existencialismo rejeita a ideia de verdades universais ou inerentes, concentrando-se na experiência individual e na escolha pessoal.
Sartre e influências recebidas
Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, em 1905, e tornou-se um dos filósofos, romancistas e ativistas políticos mais influentes do século XX. Sua trajetória intelectual foi moldada por uma ampla gama de influências, desde a fenomenologia e o existencialismo até o marxismo.
Filosoficamente, Sartre foi fortemente influenciado por existencialistas anteriores como Kierkegaard e Nietzsche, que exploraram o significado da existência individual e o papel da liberdade humana. O trabalho de Heidegger sobre o ser e o tempo também desempenhou um papel significativo no desenvolvimento dos temas existencialistas de Sartre, especialmente em sua obra magna, "O Ser e o Nada". Esses pensadores estabeleceram as bases para a ênfase de Sartre na autonomia humana, na ausência de um significado predeterminado e na necessidade de criar a própria essência por meio de escolhas.
Conceitos centrais do Existencialismo de Sartre
1. O ser e o nada
Em sua obra fundamental "O Ser e o Nada" (1943), Sartre explora a natureza do ser por meio dos conceitos de "ser-para-si" e "ser-em-si". O ser-para-si refere-se à consciência humana, caracterizada pela capacidade de questionar, refletir e transcender seu estado atual. Em contraste, o ser-em-si refere-se ao mundo objetivo e inconsciente das coisas, que simplesmente existem sem consciência. Sartre postula que os seres humanos existem em uma tensão entre esses dois modos de ser, onde a consciência enfrenta a realidade externa e imutável dos objetos, ao mesmo tempo em que exerce a liberdade por meio da autorreflexão.
2. A existência precede a essência
A famosa declaração de Sartre de que “a existência precede a essência” captura o cerne de sua filosofia existencialista. Ao contrário dos objetos, que têm uma essência ou propósito fixo, os seres humanos nascem sem qualquer natureza ou propósito predefinido. Nós devemos criar nossa essência por meio de ações e decisões. Esse princípio rejeita as noções tradicionais de destino ou significado inerente, enfatizando, em vez disso, que os indivíduos são definidos não pelo que são inerentemente, mas pelas escolhas que fazem e pelos caminhos que traçam na vida.
3. Liberdade e responsabilidade
Central no existencialismo de Sartre está a noção de liberdade radical. Ele argumenta que os seres humanos estão “condenados a ser livres”, o que significa que não temos escolha a não ser tomar decisões, e com essa liberdade vem um senso avassalador de responsabilidade. Como não há valores morais objetivos ou autoridades externas que determinem nossas ações, devemos assumir total responsabilidade por tudo o que fazemos. Essa liberdade profunda traz consigo um fardo igualmente profundo, pois deixa os indivíduos para confrontar o peso de suas próprias decisões.
4. Má-fé
Má-fé refere-se à tendência dos indivíduos de se enganarem para evitar a angústia que acompanha a liberdade absoluta. As pessoas em má-fé fingem que estão limitadas por circunstâncias externas ou papéis sociais, negando assim sua própria liberdade e responsabilidade. Por exemplo, alguém pode dizer: “Eu não tive escolha” para justificar ações das quais se sente desconfortável, embora Sartre argumente que, de fato, a pessoa teve uma escolha. A má-fé é uma evasão da autenticidade, já que os indivíduos se escondem de sua liberdade ao negar sua capacidade de fazer escolhas significativas.
5. Autenticidade e Liberdade
Para Sartre, viver de forma autêntica significa abraçar plenamente a própria liberdade e responsabilidade sem recorrer à autoenganação. A autenticidade exige que os indivíduos enfrentem a realidade de sua situação, aceitem as consequências de suas escolhas e ajam de acordo com sua própria compreensão de valores, em vez de se conformarem a expectativas sociais ou pressões externas. Sartre acredita que somente por meio dessa aceitação radical da liberdade uma pessoa pode viver de maneira genuína, alinhando suas ações com seu verdadeiro eu diante dos desafios existenciais.
6. O absurdo e a angústia Humana
Sartre também lida com a natureza absurda da existência, um tema compartilhado por outros existencialistas como Albert Camus. O absurdo surge do conflito entre a busca humana por significado e a aparente indiferença do universo. Sartre acredita que não há um significado predeterminado na vida, o que leva à ansiedade existencial, ou o que ele chama de “angústia”. Essa angústia resulta do reconhecimento de que somos livres para moldar nossas vidas, mas devemos fazê-lo sem o conforto de um significado inerente ou orientação externa.
7. Sartre e a Ética Existencial
Apesar da ausência de valores objetivos, Sartre argumenta que o existencialismo não conduz ao niilismo. Em vez disso, ele acredita que a ausência de uma ordem moral predeterminada coloca a responsabilidade da ação ética inteiramente no indivíduo. Sartre afirma que devemos agir levando em consideração os outros, pois nossa liberdade está entrelaçada com a liberdade daqueles ao nosso redor. Portanto, mesmo em um mundo sem valores inerentes, o existencialismo implica uma responsabilidade ética de agir de maneira que respeite a liberdade e a dignidade dos outros.
8. Sartre e o engajamento com a sociedade e a política
Nos últimos anos de sua vida, Sartre envolveu-se cada vez mais na política, particularmente no marxismo e nos movimentos anticoloniais. Suas ideias existencialistas sobre liberdade, responsabilidade e engajamento social informaram seu ativismo político. Sartre acreditava que o existencialismo tinha implicações sociais e coletivas, especialmente na luta contra a opressão. Embora o existencialismo enfatize a liberdade individual, Sartre via essa liberdade como conectada às lutas coletivas por justiça, igualdade e libertação, tornando-o uma figura importante no pensamento político do pós-guerra.
SÍNTESE SOBRE O EXISTENCIALISMO:
Existencialismo
- Movimento filosófico que explora a existência humana, liberdade e busca por significado.
- Rejeita verdades universais, focando na escolha e experiência individual.
Os conceitos Centrais do Existencialismo de Sartre:
O Ser e o Nada
- Separação entre "ser-para-si" (consciência) e "ser-em-si" (objetos).
A existência precede a essência
- Humanos não têm essência pré-definida, são definidos por suas ações.
Liberdade e responsabilidade
- Liberdade radical implica total responsabilidade pelas escolhas.
Má-fé
- Autoengano para evitar a angústia da liberdade absoluta.
- Exemplos: fingir que não há escolha, esconder-se da responsabilidade.
- Limita a autenticidade ao negar a capacidade de fazer escolhas significativas.
Autenticidade e Liberdade
- Viver de forma autêntica requer abraçar a liberdade e responsabilidade sem autoengano.
- A autenticidade envolve agir conforme os próprios valores, enfrentando os desafios existenciais.
O Absurdo e a Angústia Humana
- O absurdo: conflito entre a busca humana por significado e a indiferença do universo.
- Angústia existencial surge da liberdade e da ausência de um significado predeterminado.
Sartre e a Ética Existencial
- A falta de valores objetivos coloca a responsabilidade ética no indivíduo.
- Ação ética deve considerar a liberdade e dignidade dos outros.
Sartre e o Engajamento Político
- Envolvimento no marxismo e movimentos anticoloniais.
- A liberdade individual está ligada às lutas coletivas por justiça e igualdade.
Sartre: um dos principais representantes do Existencialismo na Filosofia Moderna. |
Artigo publicado em 13/10/2024
Por Equipe Sua Pesquisa (revisado por Jefferson Evandro M. Ramos - graduado em História pela USP)
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