Hegelianismo

O hegelianismo é uma filosofia desenvolvida por Hegel que enfatiza o desenvolvimento dialético da realidade e do pensamento, onde as contradições se resolvem em sínteses, movendo a história e a consciência para níveis mais elevados de compreensão

Ludwig Feuerbach: importante filósofo hegeliano do século XIX.
Ludwig Feuerbach: importante filósofo hegeliano do século XIX.

 

O que é o Hegelianismo na Filosofia?


O Hegelianismo refere-se ao conjunto de doutrinas e à estrutura filosófica desenvolvida pelo filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770–1831). Ele gira em torno de uma abordagem abrangente e sistemática da realidade, enfatizando o processo dialético, onde as contradições não são ignoradas, mas resolvidas através de síntese. O Hegelianismo influenciou profundamente o pensamento ocidental, especialmente em áreas como a metafísica, epistemologia, teoria política e ética, marcando uma mudança das ideias tradicionais do Iluminismo para uma visão mais dinâmica e histórica do mundo.


No centro da filosofia hegeliana está a ideia de que a realidade é uma totalidade dinâmica e autoevolutiva. Segundo Hegel, a realidade se desenrola através de um processo de raciocínio dialético, onde uma ideia (tese) encontra sua oposta (antítese), levando a uma resolução ou síntese. Esse desenvolvimento contínuo reflete a própria natureza da realidade, incluindo a consciência humana, a história e a sociedade.



Principais ideias filosóficas do Hegelianismo:


Processo Dialético: a dialética de Hegel é o processo através do qual as contradições são superadas. Em vez de ver as contradições como problemas a serem eliminados, Hegel as considerava como forças impulsionadoras do progresso. A interação entre forças opostas (tese e antítese) leva a uma compreensão superior (síntese), que, por sua vez, se torna uma nova tese em um ciclo contínuo.


Espírito Absoluto: Hegel acreditava que a realidade é o desdobramento do "Absoluto", que é a unidade última de todas as coisas. O Espírito Absoluto representa o ápice do processo dialético, onde o conhecimento subjetivo e objetivo se fundem em uma verdade superior. Esse processo se desenrola ao longo da história, cultura, arte, religião e filosofia, cada uma representando etapas na realização do Absoluto.


Fenomenologia do Espírito: um dos conceitos principais de Hegel, detalhado em sua obra "Fenomenologia do Espírito", é a jornada da consciência humana em direção à autoconsciência e à liberdade. Ele descreve como a consciência evolui de uma experiência simples e imediata do mundo para a autoconsciência e, finalmente, para o conhecimento absoluto, onde o indivíduo reconhece sua unidade com o todo.


História como Processo Racional: Hegel via a história como um processo racional em que a liberdade e a autoconsciência se desdobram gradualmente. Para ele, a história é o desenvolvimento da liberdade humana, impulsionada pelo movimento dialético das ideias e pelo conflito entre forças opostas. Essa visão progressiva da história contrasta com a ideia de que a história é aleatória ou caótica.


Liberdade e Autorrealização: na visão de Hegel, a verdadeira liberdade não é apenas a autonomia individual, mas a realização de si mesmo através da participação na vida ética, especialmente no estado e na sociedade civil. O indivíduo encontra a liberdade ao reconhecer seu papel dentro da comunidade maior, contribuindo para a realização do Absoluto.


Vida Ética (Sittlichkeit): para Hegel, a vida ética é a incorporação da liberdade nas instituições sociais, incluindo a família, a sociedade civil e o estado. O indivíduo ético age não de forma isolada, mas em harmonia com essas instituições, que refletem a liberdade racional. O estado, em particular, é onde a liberdade individual e coletiva são reconciliadas.

 

 

Retrato colorido do rosto do filósofo Hegel

Hegel: o filósofo alemão criador do hegelianismo na filosofia.

 



Exemplos de filósofos hegelianos importantes:


1. Ludwig Feuerbach (1804–1872): Feuerbach é frequentemente considerado um hegeliano de esquerda, pois transformou criticamente as ideias de Hegel. Sua principal contribuição foi a crítica à religião, argumentando que Deus é uma projeção da natureza humana. Sua obra principal, "A Essência do Cristianismo" (1841), explora como a religião é uma forma alienada da autoconsciência humana.


2. Karl Marx (1818–1883): Marx foi profundamente influenciado por Hegel, embora tenha desenvolvido uma interpretação materialista da dialética hegeliana. O materialismo dialético de Marx mudou o foco das ideias para as condições econômicas e materiais como forças motoras da mudança histórica. Suas obras principais, "O Manifesto Comunista" (1848) e "O Capital" (1867), refletem essa influência hegeliana.


3. Friedrich Schelling (1775–1854): contemporâneo e, inicialmente, colaborador de Hegel, a filosofia de Schelling enfatizava o papel da natureza no processo dialético. Em seus trabalhos posteriores, Schelling criticou o sistema de Hegel, defendendo uma compreensão mais dinâmica do Absoluto. Sua obra "Investigação Filosófica sobre a Essência da Liberdade Humana" (1809) é um texto significativo nesse contexto.


4. Alexandre Kojève (1902–1968): Kojève foi um filósofo do século XX que desempenhou um papel importante na interpretação e popularização de Hegel, especialmente sua "Fenomenologia do Espírito". Os seminários de Kojève em Paris, baseados na dialética hegeliana, influenciaram muitos intelectuais franceses. Sua interpretação do "fim da história" em Hegel está presente em sua obra "Introdução à Leitura de Hegel" (1947).


5. Gillian Rose (1947–1995): filósofa britânica, Rose é conhecida por sua crítica hegeliana ao pós-modernismo e à teoria política contemporânea. Seus trabalhos enfatizaram as dimensões éticas e sociais do pensamento de Hegel, particularmente em "Hegel Contra a Sociologia" (1981). Ela argumentou pela relevância contínua das ideias de Hegel para a compreensão da modernidade e da vida ética.

 

Foto do filósofo político Alexandre Kojève

Alexandre Kojève: importante filósofo hegeliano do século XX.

 



O Legado do Hegelianismo


O Hegelianismo deixou um legado duradouro na filosofia moderna, moldando não apenas a trajetória do Idealismo Alemão, mas também influenciando o existencialismo, o marxismo, a teoria crítica e a filosofia política moderna. O conceito de Hegel sobre o processo dialético, em particular, tem sido fundamental para entender a mudança, o desenvolvimento e a contradição tanto na consciência individual quanto no progresso histórico. Sua visão da história como um desdobramento racional e progressivo inspirou muitas escolas de pensamento, inclusive aquelas que criticam sua filosofia.


A influência de Hegel vai além da filosofia, alcançando áreas como teoria política, sociologia e teologia, onde suas ideias sobre liberdade, ética e o papel do estado continuam a ser centrais. Os debates contemporâneos sobre identidade, comunidade e reconhecimento também derivam das ideias de Hegel sobre o desenvolvimento da autoconsciência e a vida ética, tornando seu trabalho um ponto de referência constante nas discussões intelectuais modernas.

 

 


 

Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela USP)

Artigo publicado em 12/10/2024