As Causas Políticas da Revolução Francesa

As causas políticas da Revolução Francesa foram complexas e multifacetadas e enraizadas na monarquia absoluta, nas desigualdades dos Estados Gerais, na influência das ideias iluministas, na liderança fraca do rei e na ascensão da burguesia.

Bastilha: a prisão política do rei da França.
Bastilha: a prisão política do rei da França.

 

Introdução


A Revolução Francesa, que começou em 1789, foi um evento grandioso que remodelou não apenas a França, mas também o curso da história mundial. Embora houvesse inúmeros fatores que levaram à revolução, as causas políticas foram particularmente significativas.



Quais foram as causas políticas da Revolução Francesa?

 

1. Monarquia Absoluta e o Direito Divino dos Reis

A França no século XVIII era governada por uma monarquia absoluta, um sistema no qual o rei tinha quase total controle sobre o governo e suas políticas. O rei Luís XVI, que subiu ao trono em 1774, era visto como um símbolo desse poder absoluto. A crença no direito divino dos reis, que postulava que os monarcas eram nomeados por Deus e só a Ele deviam prestar contas, fortaleceu ainda mais esse sistema. Essa ideologia alienou o povo comum e a emergente classe média, que não tinham voz no sistema de governo de seu país e estavam sujeitos aos caprichos do rei e sua corte.



2. Ineficácia dos Estados Gerais

Os Estados Gerais, uma assembleia representativa, eram divididos em três estados: o Primeiro Estado (clero), o Segundo Estado (nobreza) e o Terceiro Estado (comuns, incluindo a burguesia, trabalhadores urbanos e camponeses). Apesar de representar a maioria da população, o Terceiro Estado tinha apenas um voto, igual ao dos outros dois estados. Esse desequilíbrio na representação significava que o Primeiro e o Segundo Estados podiam facilmente votar contra o Terceiro Estado, levando a uma frustração generalizada e pedidos de reforma.



3. Crise financeira e má administração fiscal


A crise financeira da França foi uma causa política significativa da revolução. O país estava profundamente endividado devido a guerras caras, incluindo a participação na Revolução Americana. O governo de Luís XVI tentou resolver os problemas financeiros através de reformas tributárias, mas esses esforços foram frustrados pelas classes privilegiadas. A nobreza e o clero, que eram amplamente isentos de impostos, resistiram a qualquer tentativa de mudar o sistema. A falha em implementar reformas fiscais significativas agravou a situação econômica, levando a um descontentamento generalizado.



4. Ideias Iluministas


O Iluminismo, um movimento intelectual que enfatizava a razão, o individualismo e o ceticismo em relação à autoridade tradicional, desempenhou um papel crucial na formação do cenário político da França pré-revolucionária. Pensadores como Voltaire, Rousseau e Montesquieu criticaram a monarquia absoluta e a rígida estrutura de classes. Suas ideias inspiraram a burguesia educada e até alguns membros da nobreza a questionarem a legitimidade do sistema político existente. A disseminação das ideias iluministas ajudou a criar um clima de debate político e demanda por mudanças.



5. Liderança fraca de Luís XVI

A incapacidade do rei Luís XVI de gerir efetivamente o estado contribuiu para a instabilidade política. Sua indecisão e falta de liderança forte dificultaram a resolução das crises crescentes. Suas tentativas de reformar o sistema tributário foram tímidas e encontraram resistência dos estados privilegiados. Além disso, sua incapacidade de se comunicar e conectar com seus súditos alienou ainda mais a população. A percepção de fraqueza e distanciamento do rei em relação às lutas do povo minou a autoridade da monarquia.

 

Retrato pintado do rei Luis XVI da França

Rei Luis XVI da França: sua fraqueza política foi uma das causas principais da Revolução Francesa.

 



6. Ascensão da Burguesia

A ascensão da burguesia, ou classe média, foi uma causa política significativa da Revolução Francesa. A burguesia havia crescido em riqueza e influência devido às mudanças econômicas, mas eram excluídos do poder político. Eles ressentiam os privilégios da nobreza e do clero e exigiam um papel maior na governança. A frustração da burguesia era particularmente evidente na véspera dos Estados Gerais em 1789, quando buscaram uma representação mais justa e a abolição dos privilégios feudais.



7. Influência da Revolução Americana

A Revolução Americana serviu de inspiração para o povo francês, demonstrando que era possível derrubar um regime opressor e estabelecer um governo baseado nos princípios iluministas. Soldados franceses que lutaram na Guerra de Independência Americana trouxeram de volta ideias de liberdade, igualdade e gestão democrática. O sucesso da Revolução Americana encorajou a população francesa a buscar mudanças semelhantes em seu próprio país.



8. Os panfletos políticos e opinião pública

A proliferação de panfletos políticos e o surgimento da opinião pública desempenharam um papel crucial na mobilização de apoio para a revolução. Panfletos criticando a monarquia, a aristocracia e a igreja circularam amplamente, espalhando ideias revolucionárias. Essas publicações eram frequentemente escritas por membros do Terceiro Estado e foram fundamentais para moldar o discurso público. O crescimento da opinião pública como uma força política tornou cada vez mais difícil para a monarquia manter o controle sem atender às demandas por reformas.

 

Panfleto sobre a marcha das mulheres em Versalhes em 1789

Marcha das Mulheres em Versalhes (5 de outubro de 1789): insatisfação das mulheres com as prisões políticas promovidas pelo rei Luis XVI.



9. Bastilha: a prisão política da monarquia francesa

 

A existência da prisão política da Bastilha foi um catalisador significativo para a Revolução Francesa. Como símbolo do poder absoluto e da justiça arbitrária da monarquia, a Bastilha representava a opressão e tirania experimentadas pelo povo comum sob o reinado de Luís XVI. A fortaleza-prisão era infame por deter dissidentes políticos sem julgamento, muitas vezes baseando-se apenas em suspeitas ou caprichos reais. Essa injustiça palpável alimentou um ressentimento e raiva generalizados entre a população. Em 14 de julho de 1789, a tomada da Bastilha tornou-se um evento crucial, marcando a insurreição do povo francês contra o despotismo monárquico. A queda da Bastilha galvanizou o fervor revolucionário, demonstrando o desejo do povo por liberdade, igualdade e a abolição dos privilégios feudais, levando, em última instância, à transformação profunda da sociedade francesa.



10. Assembleia dos Notáveis e a falha da Reforma


Em 1787, Luís XVI convocou a Assembleia dos Notáveis, um grupo de altos nobres e clérigos, para abordar a crise financeira. No entanto, a assembleia recusou-se a aprovar as reformas propostas pelo rei, incluindo a imposição de novos impostos. Esse fracasso destacou ainda mais a incapacidade do sistema político existente de se adaptar e reformar. O impasse entre a monarquia e os estados privilegiados criou um senso de urgência e empurrou o país para mais perto da revolução.



11. Os Estados Gerais e o Juramento do Jogo da Péla

A convocação dos Estados Gerais em maio de 1789 foi um momento crucial na véspera da revolução. O Terceiro Estado, frustrado com a falta de representação, declarou-se Assembleia Nacional, afirmando representar toda a nação. Quando foram impedidos de entrar em seu salão de reuniões, mudaram-se para uma quadra de tênis próxima e fizeram o famoso Juramento do Jogo da Péla, prometendo não se dispersar até que uma nova constituição fosse estabelecida. Este ato de desafio marcou o início da revolução e o desafio à ordem política existente.

 

Pintura mostrando o Juramento do Jogo da Péla

Juramento do Jogo da Péla (1848): pintura de Auguste Couder, sobre o evento, de mesmo nome, ocorrido em 20 de junho de 1789.

 

 



Por Jefferson Evandro M. Ramos (graduado em História pela Universidade de São Paulo)

Publicado em 04/07/2024