Mitologia Inca

A mitologia inca é um rico conjunto de crenças e narrativas que explicam a origem do mundo, a organização da sociedade e a relação entre os deuses e os humanos.

Introdução

 

A mitologia inca foi um dos elementos centrais da cultura da Civilização Inca, servindo como base para a compreensão do mundo e da sociedade pelos povos andinos. Como uma civilização profundamente religiosa, os incas desenvolveram uma mitologia complexa, repleta de divindades, seres sobrenaturais e mitos que explicavam a origem do mundo, dos seres humanos e dos fenômenos naturais. A mitologia inca não apenas estruturava suas crenças espirituais, mas também legitimava o poder político do imperador, considerado descendente direto do deus Sol, Inti.

Características mais importantes da mitologia inca:


• Politeísmo e hierarquia divina: a mitologia inca era politeísta, ou seja, acreditava em vários deuses, cada um com funções específicas na manutenção do universo e na vida cotidiana. No entanto, havia uma hierarquia entre os deuses, sendo Viracocha e Inti algumas das principais divindades. Os deuses estavam relacionados à natureza, refletindo a forte ligação dos incas com os elementos naturais, como o sol, a lua, as montanhas e os rios.


• Religião estatal e culto ao imperador: o Estado incaico organizava o culto religioso, e o imperador, chamado Sapa Inca, era considerado um filho do Sol. Os sacerdotes, em sua maioria pertencentes à nobreza, controlavam os templos e realizavam cerimônias para garantir a harmonia entre os deuses e a humanidade. O Templo do Sol em Cusco, chamado Coricancha, era um dos principais centros religiosos do império.


• Dualidade e complementaridade: os incas acreditavam no equilíbrio entre forças opostas, como masculino e feminino, luz e escuridão, sol e lua. Esse princípio refletia-se em suas divindades, como Inti, o deus do Sol, e Mama Quilla, a deusa da Lua, que juntos representavam o ciclo cósmico e a harmonia do universo. Esse conceito também influenciava suas práticas agrícolas, sociais e políticas.


• Ligação com a natureza e sacrifícios rituais: os incas viam a natureza como sagrada e acreditavam que fenômenos naturais eram manifestações divinas. Por isso, praticavam oferendas e sacrifícios para manter a ordem cósmica. Os sacrifícios podiam incluir alimentos, tecidos, animais e, em ocasiões especiais, seres humanos, como no ritual da capacocha, no qual jovens eram sacrificados em cerimônias religiosas para garantir a prosperidade do império.

Exemplos de deuses da mitologia inca:


• Viracocha: considerado o deus criador, Viracocha era responsável pela criação do universo, da terra, dos céus e dos primeiros seres humanos. Após criar o mundo, ele teria partido, prometendo um dia retornar. Muitas lendas indicam que ele foi uma divindade benevolente, trazendo conhecimento e civilização ao povo andino.


•  Inti: o deus Sol era uma das divindades mais veneradas pelos incas, pois representava a luz e a fertilidade. Como patrono do império, Inti era diretamente ligado à legitimidade do poder do Sapa Inca. Seu culto incluía festivais como o Inti Raymi, celebrado durante o solstício de inverno.


• Mama Quilla: deusa da Lua e esposa de Inti, era associada ao tempo, ao calendário lunar e à fertilidade feminina. Também era considerada protetora das mulheres e dos casamentos, sendo uma divindade de grande importância na sociedade inca.


• Pachamama: a deusa da terra e da fertilidade era essencial para os incas, pois representava a mãe natureza e a abundância. Seu culto envolvia oferendas de alimentos e bebidas para garantir boas colheitas e a prosperidade agrícola.


• Supay: deus da morte e do submundo, conhecido como Uku Pacha, era uma figura temida, associada à morte e aos espíritos dos mortos. Apesar de sua conotação negativa, Supay era respeitado e recebido com oferendas para evitar desgraças.

 

O imperador inca Pachacútec adorando Inti, o deus Sol, no templo.

Exemplos de seres mitológicos incas:


• Apus: espíritos das montanhas, eram considerados protetores das terras e das comunidades. Cada montanha importante tinha seu próprio Apu, que era reverenciado com oferendas para garantir boas colheitas e proteção contra desastres naturais.


• Amaru: uma serpente mítica associada à fertilidade e ao conhecimento. Representava a ligação entre os mundos celestial, terrestre e subterrâneo, sendo um símbolo de sabedoria e transformação.


• Pishtaco: uma figura temida, descrita como um ser que sugava a gordura das pessoas, muitas vezes representado como um estrangeiro ou um estranho de aparência ameaçadora. Esse mito refletia o medo do desconhecido e dos colonizadores espanhóis.


• Chullachaqui: ser mítico que habitava as florestas e enganava viajantes, aparecendo na forma de um ente querido ou conhecido. No entanto, um de seus pés era diferente do outro, denunciando sua verdadeira identidade.


• Yakuruna: espíritos das águas, considerados seres encantados que viviam em rios e lagos. Acreditava-se que podiam capturar pessoas e levá-las para reinos subaquáticos misteriosos.

 

O deus da morte Supay representado numa festa de carnaval.

Três exemplos de mitos importantes da mitologia inca:


1. O mito da criação de Viracocha: segundo a tradição, Viracocha emergiu das águas e criou o mundo, os céus e os primeiros seres humanos. No entanto, insatisfeito com sua criação inicial, ele destruiu os primeiros homens e criou uma nova humanidade a partir do barro. Antes de partir, prometeu retornar, o que influenciou a crença na chegada de deuses estrangeiros durante a colonização espanhola.


2. O mito de Manco Cápac e Mama Ocllo: conta a lenda que Manco Cápac e Mama Ocllo foram enviados por Inti para civilizar os povos andinos. Eles emergiram do Lago Titicaca e, seguindo a orientação do Sol, fundaram a cidade de Cusco, que se tornaria a capital do império. Esse mito serviu para legitimar a dinastia dos incas como descendentes divinos.


3. O mito dos irmãos Ayar: essa narrativa descreve a origem dos incas a partir de quatro irmãos e suas esposas, que saíram de uma caverna em Pacaritambo. Durante a jornada, os irmãos enfrentaram desafios e disputas, até que Ayar Manco se tornou o líder e fundou Cusco. Esse mito reforçava a ideia de uma linhagem sagrada e a importância da cidade como centro espiritual e político do império.

 

Ilustração mostrando o mito da criação dos incas, com o deus Viracocha criando o mundo, o céu e os primeiros seres humanos. (imagem gerada por IA, a partir de informações históricas verificadas. A imagem não é uma fonte histórica e tem objetivo exclusivamente didático e ilustrativo).

 

 

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Por Jefferson Evandro Machado Ramos (graduado em História pela Universidade de São Paulo)

Publicado em 27/02/2025