Livro dos Mortos do Egito Antigo

O Livro dos Mortos é um dos documentos históricos mais importantes sobre o Egito Antigo.

Ilustração de um feitiço contido no Livro dos Mortos.
Ilustração de um feitiço contido no Livro dos Mortos.

 

O que é

 

O Livro dos Mortos do Antigo Egito é um dos textos mais intrigantes e místicos do mundo antigo, incorporando as complexas crenças egípcias sobre a vida após a morte e a jornada da alma além da morte. Esta coleção de feitiços, orações e encantamentos não era um texto único e uniforme, mas sim uma série de escritos destinados a guiar o falecido através dos perigos do submundo e para a vida após a morte.




Origens e autores


O Livro dos Mortos evoluiu ao longo do tempo, com suas origens remontando aos Textos das Pirâmides do Antigo Reino (cerca de 2400 a.C.), os textos religiosos conhecidos mais antigos do mundo. Estes foram seguidos pelos Textos dos Caixões do Médio Reino, que expandiram os feitiços e os tornaram mais acessíveis a indivíduos não reais. Pelo Novo Reino (cerca de 1550–1070 a.C.), esses textos haviam se desenvolvido no que agora nos referimos como o Livro dos Mortos. Os textos foram compilados e reeditados ao longo do século XVI a.C., a partir de uma rica tradição de fontes orais e escritas.


Escribas, que eram homens instruídos capazes de escrever e entender os complexos hieróglifos, eram responsáveis por copiar os feitiços em rolos de papiro. Esses rolos eram então vendidos àqueles que podiam pagar por eles, para serem colocados em suas tumbas como um guia para a vida após a morte.



Função do livro


A função primária do Livro dos Mortos era assegurar uma passagem segura para a alma do falecido, ou "ka", para a vida após a morte, garantindo sua sobrevivência e bem-estar.


Os antigos egípcios acreditavam em uma vida após a morte que era uma continuação da existência terrena, embora mais idealizada, onde se poderia viver em harmonia com os deuses egípcios. No entanto, alcançar este paraíso estava repleto de perigos. O falecido tinha que navegar pelo submundo, enfrentando desafios, demônios e julgamentos. Os feitiços no Livro dos Mortos foram projetados para proteger o falecido desses perigos, fornecer conhecimento para passar por vários testes e garantir que fossem julgados favoravelmente por Osíris, o deus da vida após a morte.



Conteúdos do Livro dos Mortos


O Livro dos Mortos continha uma ampla variedade de conteúdo, incluindo feitiços, orações e encantamentos mágicos, cada um servindo a um propósito específico. Alguns feitiços foram destinados a proteger o falecido de forças hostis no submundo, enquanto outros garantiam que eles pudessem fazer uso das faculdades necessárias, como respirar, comer e mover-se livremente na vida após a morte.

 

Os textos também incluíam declarações de inocência, que o falecido recitaria diante dos deuses para provar sua dignidade de entrar na vida após a morte.


Uma das imagens mais icônicas associadas ao Livro dos Mortos é a cerimônia de pesagem do coração, onde o coração do falecido é pesado contra a pena de Ma'at, a deusa da verdade e justiça. Esta cerimônia determinava se o falecido era digno de entrar na vida após a morte. Os egípcios acreditavam que os feitiços no Livro dos Mortos ajudavam o coração do falecido a passar por este teste crucial.

 

Trecho do livro dos mortos mostrando a pesagem do coração por Anúbis

Pesagem do Coração: um dos trechos mais conhecidos do Livro dos Mortos.




Legado e significado


O Livro dos Mortos não é apenas uma janela para as crenças e práticas religiosas do Antigo Egito, mas também um testemunho da busca dos egípcios pela imortalidade. Por meio desses textos, estudiosos modernos e entusiastas podem obter informações sobre as visões dos antigos egípcios sobre a morte, a vida após a morte e a alma. O Livro dos Mortos permanece uma das relíquias mais estudadas e celebradas da civilização egípcia antiga, oferecendo uma compreensão profunda de uma cultura que fascinou a humanidade por milênios.

 

Trecho do Livro dos Mortos mostrando os 42 juízes de Maat

Trecho do Livro dos Mortos mostrando os 42 juízes de Maat

 

 

Você sabia?

 

O egiptólogo, arqueólogo e linguista prussiano Karl Richard Lepsius (1810-1844), foi primeiro tradutor de um manuscrito completo do Livro dos Mortos. Essa tradução foi feita em 1842.

 

 


 

Publicado em 11/02/2024

Por Jefferson Evandro M. Ramos (graduado em História pela USP)